quinta-feira, 31 de maio de 2007
Pendurou as chuteiras
Salvador é uma cidade ímpar. Visitei meu amigo Pedro e minha amiga Perla na Bahia, e quase não acredito que eles querem trocar aquele colorido pelo branco canadense, frio, estranho... Mas, vá lá! Enquanto estão por lá, aproveitemos.
Salvador é o berço da capoeira. Luta de resistência, dança, na palavra mais sábia, um Jogo. Na Regional, Jogo vigoroso, a malandragem acrobática. Na Angola, o Jogo sutil, no meu modo de ver a malandragem com elegância, "menino, eu faço brincando o que você não faz nem nervoso", frase aproximada atribuída ao Mestre Pastinha.
Mas, nas andanças pela cidade, me deparei com essa janela, as luvas de Boxe penduradas do lado de fora. Um aviso ou uma lembrança. Talvez um chamado, uma esperança. Na cidade da capoeira, jovens lutam outra batalha. A pobreza. E em poucos lugares do nosso país, possivelmente nenhum, se faz tantos craques da nobre luta. Salvam-se pelas luvas. São levados a briga justa, entre iguais. Para um dia, quem sabe, poderem pendurar as chuteiras com toda a dignidade.
quarta-feira, 23 de maio de 2007
Flor do Cerrado
Nasci e fui criado em Brasília, tenho uma estreita relação com a cidade, conheço seus atalhos e sei contar dezenas de buracos de coruja espalhados pelas tesourinhas da capital. Minha família veio do Piauí, meu pai chegou aqui para se formar e, enquanto fazia universidade, estudou violão. Ficou bom no negócio. E durante os anos setenta até seu retorno para Teresina em 1988, sempre tocou em rodas de samba e choro nos botecos da cidade. Lembro de um em especial, o Bar do Zé na 504 Norte. Lá cresci ouvindo bambas, tomando Coca e dormindo no carro estacionado estrategicamente na porta do bar.
Brasília teve grande influência carioca em vários aspectos, mas assombrosamente tornou-se um celeiro de grandes músicos de samba. Os funcionários públicos que migraram para a cidade de Juscelino trouxeram seus instrumentos na bagagem. Trouxeram mais que isso, todo um conhecimento, uma cultura de rua, de terreiro. O Samba.
O Clube do Choro esse ano completa 30 anos. E entre os músicos famosos, os compositores geniais que fizeram parte de sua formação, estão tantos outros que das ruas fizeram seus terreiros e seus pagodes, lá estavam os amigos do meu pai tocando samba e choro, e ainda misturando ritmos nordestinos trazidos com eles. Lá estava eu, criança, assistindo a tudo. Aprendendo meu pandeiro com o Mestre Pernambuco. E participando sem saber da criação de um templo da música popular brasileira. O Clube do Choro. Acreditem, tem até filme de algum jornal local comigo tocando pandeiro, suava em bicas tentando acompanhar aqueles cobras.
O Clube do Choro reapareceu depois de problemas que não conheço bem. Parei por um tempo, depois que o velho se foi. Sabe aquele samba do João Nogueira, Espelho, pois é. A reabertura institucionalizou e profissionalizou a gestão do Clube e o Reco do Bandolim tornou-se figura reconhecida pelo seu esforço em manter e ampliar o Clube do Choro.
Mas onde eu queria mesmo chegar é na renovação que vem acontecendo de uns anos para cá. Hamilton de Holanda sempre tocou, desde menino mostrava intimidade com seu instrumento e com o choro, cabra bom! Mas faltava algo, número. A geração deu um salto, porque o samba entre os jovens daqui estava adormecido, guardado na alma, mas não executado nas mãos. Tudo um dia desperta, acredito, e hoje vemos nas ruas da cidade o samba novamente ser tocado nos botecos, nos restaurantes, nos encontros de amigos, nas festas, nos shows. Há uma exclusiva escola de Choro na cidade que descobre novos talentos e reintegra garotos e garotas na cultura musical brasileira. Há casas noturnas que se especializaram em repertórios musicais brasileiros, DJ´s que se dedicam a pesquisa da nossa música. Tudo isso com um público fiel, com rodas brotando pela cidade, o samba se reproduzindo e se recriando. A nova cara do velho choro, nome de disco do Dois de Ouro que explica bastante o que vem acontecendo por aqui.
Para não parecer injusto, o samba nunca parou de fato. No Cruzeiro, pedaço de terra fértil nos momentos de secura do plano piloto, talvez o mais carioca dos “bairros” brasilienses, o samba sempre esteve presente. Certo é que se aproximou do pagode modista, mas sempre valorizou o pagode de fundo de quintal, o verdadeiro samba de terreiro. Mas são novos tempos, na minha modesta opinião, e pela música a cidade diminui suas distâncias, cresce sua família, quando sentam nas rodas seus irmãos.
Brasília teve grande influência carioca em vários aspectos, mas assombrosamente tornou-se um celeiro de grandes músicos de samba. Os funcionários públicos que migraram para a cidade de Juscelino trouxeram seus instrumentos na bagagem. Trouxeram mais que isso, todo um conhecimento, uma cultura de rua, de terreiro. O Samba.
O Clube do Choro esse ano completa 30 anos. E entre os músicos famosos, os compositores geniais que fizeram parte de sua formação, estão tantos outros que das ruas fizeram seus terreiros e seus pagodes, lá estavam os amigos do meu pai tocando samba e choro, e ainda misturando ritmos nordestinos trazidos com eles. Lá estava eu, criança, assistindo a tudo. Aprendendo meu pandeiro com o Mestre Pernambuco. E participando sem saber da criação de um templo da música popular brasileira. O Clube do Choro. Acreditem, tem até filme de algum jornal local comigo tocando pandeiro, suava em bicas tentando acompanhar aqueles cobras.
O Clube do Choro reapareceu depois de problemas que não conheço bem. Parei por um tempo, depois que o velho se foi. Sabe aquele samba do João Nogueira, Espelho, pois é. A reabertura institucionalizou e profissionalizou a gestão do Clube e o Reco do Bandolim tornou-se figura reconhecida pelo seu esforço em manter e ampliar o Clube do Choro.
Mas onde eu queria mesmo chegar é na renovação que vem acontecendo de uns anos para cá. Hamilton de Holanda sempre tocou, desde menino mostrava intimidade com seu instrumento e com o choro, cabra bom! Mas faltava algo, número. A geração deu um salto, porque o samba entre os jovens daqui estava adormecido, guardado na alma, mas não executado nas mãos. Tudo um dia desperta, acredito, e hoje vemos nas ruas da cidade o samba novamente ser tocado nos botecos, nos restaurantes, nos encontros de amigos, nas festas, nos shows. Há uma exclusiva escola de Choro na cidade que descobre novos talentos e reintegra garotos e garotas na cultura musical brasileira. Há casas noturnas que se especializaram em repertórios musicais brasileiros, DJ´s que se dedicam a pesquisa da nossa música. Tudo isso com um público fiel, com rodas brotando pela cidade, o samba se reproduzindo e se recriando. A nova cara do velho choro, nome de disco do Dois de Ouro que explica bastante o que vem acontecendo por aqui.
Para não parecer injusto, o samba nunca parou de fato. No Cruzeiro, pedaço de terra fértil nos momentos de secura do plano piloto, talvez o mais carioca dos “bairros” brasilienses, o samba sempre esteve presente. Certo é que se aproximou do pagode modista, mas sempre valorizou o pagode de fundo de quintal, o verdadeiro samba de terreiro. Mas são novos tempos, na minha modesta opinião, e pela música a cidade diminui suas distâncias, cresce sua família, quando sentam nas rodas seus irmãos.
PS: O desenho ilustrando o texto foi feito a algum tempo. Havia a possibilidade de se fazer uma festa que teria apenas músicas dos nossos pais. MPB. E que explicasse o nosso gosto pelo som feito na nossa história. Algo como "Ei, eu estava ouvindo!".
Tinha uma vitrola lá em casa que quase nunca parava. Daí menino no traço tosco. Inté...
terça-feira, 22 de maio de 2007
Boa pedida
Tive a oportunidade de acompanhar de perto a carreira do Bandolinista Dudu Maia, que a partir de 2002 passou a tocar com a banda Choro de Calango no bar e restaurante Bella Rubia. Franklin, parceiro de choop e grande amigo, me incumbiu de achar uma atração para as tardes de sábado que combinasse com a feijoada da casa. Tradição brasileira, a música e a comida nos finais de semana viraram acompanhantes amorosas. Vários bares insistem generosamente na dupla e faço fé que permaneça assim. Pois então, conheci havia pouco tempo quem hoje vem se tornando um grande parceiro de som, o Rodrigo Barata, produtor musical, DJ, baterista, pandeirista, e grande conhecedor de boa música. Apresentei o Barata ao Franklin e passei a ser um fiel ouvinte do Choro de Calango e apreciador da feijoada do Bella. Com o tempo e a profissionalização se tornando obrigatória, Dudu Maia e seus parceiros procuraram alçar vôos mais altos e saíram do nosso boteco. Ficou a saudade que hoje matamos com o lançamento de seu primeiro trabalho solo. Seu show de estréia aconteceu no dia 03 de maio desse ano, na sala Martins Penna do Teatro Nacional Claudio Santoro. Fui, vi, ouvi e gostei. Seu desempenho supera em muito o primeiro Dudu que conheci, no começo o achava acanhado, tocava boa música, mas a banda tinha outros cobras e ele ainda não rasgava com a precisão de hoje. Agora as notas lhe saem firmes e limpas, o ritmo, a melodia, acariciam os ouvidos. A postura simpática e simples o tornou familiar no palco, como se tocasse em uma roda de amigos, despretensioso, alegre. Na companhia de George Lacerda, nas percussões; Leander Mota, na bateria; Wava el Afiouni, no baixo; e com a participação de Gabriel Grossi, na gaita cromática, fez um espetáculo emocionante, no qual nos presenteou com uma seleção inspirada e executada com rara harmonia. Mesclou clássicos do choro e composições próprias que demonstraram a maturidade que um artista dedicado e sensível pode revelar. Fica, portanto, a dica de um ótimo disco de um artista em começo de carreira que deverá nos surpreender muito. Parabéns, meu caro Dudu. Vamos em frente. Um abraço.
www.dudumaia.com
segunda-feira, 21 de maio de 2007
Vamos andando devagar
terça-feira, 8 de maio de 2007
O Henfil explica
Como não trabalho pro governo, não compreendo suas atitudes estratégicas. Mas acreditava que a Ministra Marina brigaria mais no caso do desmantelamento iniciado contra o IBAMA, orgão que pelo caráter independente e responsável pelo meio ambiente tem o poder de barrar projetos tanto particulares como governamentais. O desenvolvimento sempre é a desculpa para a construção de novas barragens e estradas, citando projetos que tem grande impacto e interesse econômico envolvidos. O desenvolvimento é uma pedra no sapato do governo Lula e pressões político-econômicas parecem influenciar as decisões relevantes para o futuro ambiental brasileiro no Palácio do Planalto. O resto faz boi dormir. Fortalecer o IBAMA, retirando suas crias podres, renovando e aumentando seus quadros técnicos e fiscalizadores, seria a atitude de um governo responsável. Todo o conhecimento acumulado em anos de trato com a diversidade ambiental do nosso território periga desaparecer. Desmembrando as competências desloca-se o diálogo entre disciplinas complementares que já ocorria nos corredores e laboratórios do IBAMA, pior, amplia a burocracia, o que permite maior desrespeito com leis de proteção ambiental. O desenvolvimento brasileiro perece, porque perde fontes valiosas de estudo e sustentabilidade. Mas o imediatismo econômico e as alianças políticas são prioridade e a nossa marcha eterna rumo ao desenvolvimento sempre feito às avessas.
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