quarta-feira, 11 de abril de 2007

Republicando...

Sou flamenguista. Isso não ocorreu por acaso ou desejo paterno, o velho era fluminense. Meu saudoso pai por vezes tentou me inspirar a paixão tricolor. Presenteou-me uma vez com a camisa do seu time do coração, mas a dureza da época devia ser grande e ela era vários números acima do meu, a bicha vinha até o joelho, mais parecia um vestido. Namorada e amigos vendo antigas fotos de família me ridicularizam até hoje pelo uso infantil da gloriosa camisa tricolor que combinava pelo colorido com aquela fase da vida, ingênua e feliz, correndo pelas ruas de Teresina, onde foram tiradas as fotografias, mas não combinam com o flamenguista já adulto.
Tomei gosto por futebol já grande. Não fui infante bom peladeiro, fazia uma graça de vez em quando, e já me valia a alegria daquele único gol no meio da tarde de semana no horário do dever de casa, subindo imundo aos reclames da mãe e da avó. Pois então, paixões por camisas não me diziam respeito.
Sem querer fazer sociologia, o Brasil é esse país de idiossincrasias, não crescemos nunca, fazemos CPIs inócuas, o carroceiro toca seu cavalo em meio à pista do congresso federal e mora no cerrado com vista à bandeira nacional naquele mastro enorme que os militares mandaram construir. Mas entre as belas peculiaridades seus jovens peladeiros têm um poder alquímico. Transformam velhos doentes em jovens entusiasmados. Trabalhadores findam a semana a espera do milagroso gol, do drible desconcertante, do remédio.
Eu jovem e ainda com toda a minha saúde, no início dos anos da nova esperança brasileira, vi crescer para o futebol brasileiro quem seria um de seus maiores ídolos, Arthur Antunes Coimbra, o Zico, é claro! Para nós, o Galinho de Quintino. Tornei-me Flamengo.
A camisa do meu pai sumiu entre tantas coisas do passado, sumiu também o presente que uma tia me deu no retorno de uma dentre tantas de suas viagens, um autógrafo do Zico. Nunca me esqueço disso. Não sei como aquele pequeno pedaço de papel guardado com tanto carinho desapareceu.
Escrevo isso para lembrar do autógrafo do meu ídolo, que um dia tive e que parece que o tenho em minhas mãos agora, lembrar do meu pai tricolor, lembrar que existe futebol, e que podemos abraçar nossos ídolos, nossos médicos do dia-a dia.

Um comentário:

Anônimo disse...

Renato em cada texto você vai se apresentando vagarosamente. crítico. amoroso. político. nostálgico. coerente. afeto é afeto. time é time. descobertas chegam com a maturidade... claro que a camisa e o autógrafo não desapareceram permanecem vivos e reais caso contrário não seriam objeto do texto. viva a vida viva. PS. acho que a camisa grande não é uma questão de "dureza", crei que hoje tem de todos os tamanhos por uma questão de "mercado", criança hoje também é consumidor.
PS 2. adorei que linda imagem que você consegui criar, feliz e amorosa "Namorada e amigos vendo antigas fotos de família me ridicularizam até hoje pelo uso infantil da gloriosa camisa tricolor que combinava pelo colorido com aquela fase da vida, ingênua e feliz, correndo pelas ruas de Teresina"