quinta-feira, 11 de outubro de 2007
Crianças de Rio Novo II
Prometi, mas demorei. Outra foto de criança. Essa foi tirada enquanto eu passeava, ainda conhecendo a cidade de Rio Novo. O garoto estava muito a vontade relaxando na janela de casa e eu parei tentando não alerta-lo para a foto. Demorei muito e ele teve tempo de chamar uma moça, talvez uma irmã, que apareceu e saiu na fotografia. Gostei da cara deles, pareceram gostar do meu interesse pela cena. Inté.
O Véi Me Lembrou
Estava na chácara do Véi Walter dia desses e vi em seu computador, como papel de parede, esta foto que fiz faz anos. Lá estava legal. A Ema era meio bicho do mato, meio de estimação, já se foi, mas tivemos momentos interessantes com ela. Como a primeira vez que ela pôs um ovo, estavamos na varanda e notamos que ela estava diferente, o Véi se aproximou e notou que o ovo ia sair. Não teve dúvidas. Segurou o bicho antes de cair no chão. Ou as inúmeras vezes em que tínhamos que correr da Ema porque ela entrava no cio, ou algo assim, e ficava territorialista. Botava a galera pra correr da varanda. Enfim, uma lembrança da chácara. Beijo, Véi.
quinta-feira, 20 de setembro de 2007
I Arthur
O moleque vivia correndo, driblava os obstáculos da rua em giradas com o corpo elástico e passadas que lembravam ensaios de dança de salão, corria elegante apesar de um pouco estabanado. Por vezes ao fazer a curva do quarteirão perdia o controle do caminhado acelerado e trombava com algum desavisado. Tudo parte de uma brincadeira solitária, imaginada, que inventava na cabeça, pensava estar em um jogo de futebol com zagueiros mais fortes e volantes duros, girava o corpo, gingava com as pernas, pulava os carrinhos, saltava os corpos atravessados no campo até achar uma boa pedra, uma caixa de papel, uma tampinha de garrafa, uma latinha de cerveja, para desferir o chute fatal, preciso. Pulava pela rua feito um pequeno louco saído do hospício. Fizera o gol. Encarava as trombadas eventuais como uma jogada infeliz que não tivera como finalizar. Um erro de passe do companheiro ou uma atitude fominha de sua parte. Caia em risadas, enquanto o pobre senhor com as mãos na barriga tentava recuperar o fôlego para, então, gritar com o moleque que já longe - recebera um passe longo - corria a gritar desculpas.
Sandra tinha pouco menos que sua idade. Criança também, achava graça do vizinho de bairro, sempre apontava para ele de longe e a mãe olhava insatisfeita pelas escolhas estéticas da sua bela filha. Menino maluco, minha filha, que graça tem esses pulos, parece doente da cabeça. A menina todas as vezes desapontava-se com a mãe, que não conseguia entender a beleza que só ela parecia ver.
Era uma tarde quente, o Rio inteiro parecia de folga, as pessoas na rua tomavam sorvete e refrigerantes para aplacar o calor. Cervejas nos botecos lotados e poucas roupas vestiam a maioria dos homens. As mulheres ainda eram, em sua maioria, adeptas às roupas sérias cobrindo o corpo, apesar do forno que se escondia embaixo dos panos. Arthur vinha apenas de shorts e chinelas de dedo, protegendo os pés do chão incandescente, correndo como sempre, driblando seus adversários imaginários. Sandra o notou antes. Ele pulou um saco de batatas escorado em frente à venda e depois girou o corpo passando as costas pelo Seu Coutinho, que caminhava tranquilamente pela rua chupando seu picolé. O senhor fitou o garoto e sorriu, Sandra via tudo, apesar da mãe a puxar sem querer para o lado oposto do acontecimento. Sem ter a intenção, Arthur correu em direção às duas e quando foi driblar a mãe de Sandra, seus olhos encontraram os da menina. Um instante tão pequeno como piscar os olhos. O suficiente para tirar toda a concentração do jogo, e pimba no chão. Rolou três vezes no asfalto, queimou o corpo e esfolou joelhos e cotovelos. Ficou por lá, arrastou-se levemente para uma sombra de árvore ali ao lado e deixou-se sofrer de olhos fechados. Estranhamente guardou a foto da menina na lembrança. Escondido nas dores do corpo, silencioso, o olhos cerrados não tiravam a imagem de sua mente. Ouvia as vozes de socorro ao longe, não pela angústia dos arranhados e o calor do asfalto, mas, pela primeira vez algo o tirou de campo, sua primeira contusão séria, precisava de atendimento.
Levantou-se ainda tonto, atordoado, procurou seu mais severo adversário e não o encontrou, outras pessoas, algumas conhecidas vieram ao seu socorro, mas a menina sumira na pequena multidão e ele tentava esquecer a dor para procura-la. Foi Seu Coutinho que o levou para casa, o carregou por uns metros, mas o garoto pediu para ir andando. Foi, mas demorou uma eternidade, mancando e se arrastando de dor e de raiva por ter perdido a menina de vista.
A bela zagueira, sua mais implacável oponente.
Sandra tinha pouco menos que sua idade. Criança também, achava graça do vizinho de bairro, sempre apontava para ele de longe e a mãe olhava insatisfeita pelas escolhas estéticas da sua bela filha. Menino maluco, minha filha, que graça tem esses pulos, parece doente da cabeça. A menina todas as vezes desapontava-se com a mãe, que não conseguia entender a beleza que só ela parecia ver.
Era uma tarde quente, o Rio inteiro parecia de folga, as pessoas na rua tomavam sorvete e refrigerantes para aplacar o calor. Cervejas nos botecos lotados e poucas roupas vestiam a maioria dos homens. As mulheres ainda eram, em sua maioria, adeptas às roupas sérias cobrindo o corpo, apesar do forno que se escondia embaixo dos panos. Arthur vinha apenas de shorts e chinelas de dedo, protegendo os pés do chão incandescente, correndo como sempre, driblando seus adversários imaginários. Sandra o notou antes. Ele pulou um saco de batatas escorado em frente à venda e depois girou o corpo passando as costas pelo Seu Coutinho, que caminhava tranquilamente pela rua chupando seu picolé. O senhor fitou o garoto e sorriu, Sandra via tudo, apesar da mãe a puxar sem querer para o lado oposto do acontecimento. Sem ter a intenção, Arthur correu em direção às duas e quando foi driblar a mãe de Sandra, seus olhos encontraram os da menina. Um instante tão pequeno como piscar os olhos. O suficiente para tirar toda a concentração do jogo, e pimba no chão. Rolou três vezes no asfalto, queimou o corpo e esfolou joelhos e cotovelos. Ficou por lá, arrastou-se levemente para uma sombra de árvore ali ao lado e deixou-se sofrer de olhos fechados. Estranhamente guardou a foto da menina na lembrança. Escondido nas dores do corpo, silencioso, o olhos cerrados não tiravam a imagem de sua mente. Ouvia as vozes de socorro ao longe, não pela angústia dos arranhados e o calor do asfalto, mas, pela primeira vez algo o tirou de campo, sua primeira contusão séria, precisava de atendimento.
Levantou-se ainda tonto, atordoado, procurou seu mais severo adversário e não o encontrou, outras pessoas, algumas conhecidas vieram ao seu socorro, mas a menina sumira na pequena multidão e ele tentava esquecer a dor para procura-la. Foi Seu Coutinho que o levou para casa, o carregou por uns metros, mas o garoto pediu para ir andando. Foi, mas demorou uma eternidade, mancando e se arrastando de dor e de raiva por ter perdido a menina de vista.
A bela zagueira, sua mais implacável oponente.
Crianças de Rio Novo I
Olhando algumas fotos antigas, notei que tenho uma boa sequência de fotos de crianças, não necessariamente as fotos são tecnicamente boas, algumas gosto, essa por exemplo. Mas, o interessante de fotografar crianças está na honestidade do olhar delas. Na ingenuidade há muito de autêntico. A pureza escondida atrás da cara tímida, do jeito travesso, do olhar reprovativo, da tristeza, da carência, inumeráveis valores e símbolos que não comportam atitudes teatralizadas, são genuínas porque são pequenas, independente do que tem, vivem, passam, são honestas e ponto. Mostrarei algumas delas aqui, espero suscitar as mesmas sensações que tive quando, entre elas, me permitiram ser o chato com a câmera, atrás delas nos horários de lazer.
terça-feira, 28 de agosto de 2007
O Espelho
Nunes cresceu jogando em um campinho no fim da rua sem saída onde morava sua família. O assovio da avó era o chamado, fosse para almoçar, jantar, fazer as tarefas de casa ou comprar verduras na venda, tudo realizado prontamente, sem reclames ou questionamentos. Um amigo seu um dia perguntou porque ele aceitava e fazia tudo tão corretamente, na hora. Nunes sem entender a pergunta, mas respondendo com precisão, rebateu, são eles que me criam e me dão casa, comida e roupa, posso fazer pouco por enquanto, mas tenho o que fazer, aliás, gosto muito de todo mundo, vovó, o véi, minha mãe, do pai, e dos moleques, um dia vou criar os meninos e eles vão pra escola boa. O amigo ficou satisfeito com a resposta e rebolou a bola no peito do desprevenido Nunes, que num reflexo físico estudado fazia anos, abafou a pelota num encolhimento do tronco e a rolou corpo abaixo até ser aparada pelo peito do pé, dois segundos de equilíbrio e devolveu no peito do colega que abaixou os joelhos e cutucou de ombro para a cabeça de Nunes, ele abaixou o corpo e tentou bater de calcanhar sem olhar para trás. Meteu um chute na canela do pai que vinha passando e ia tentar roubar a bola do filho de surpresa. O seu pai trabalhava de roupeiro em um time e era o maior contador de crônicas futebolísticas do bar da rua. Crente, não bebia, mas não perdia uma partida de sinuca por nada, não apostava, deixava a ficha para o próximo, se conseguissem tira-lo da mesa. Bebia suco de laranja e guaraná, vez ou outra roubava um cigarro picado do maço que ficava na registradora do balcão e se escondia nos fundos do bar. Dava duas baforadas e a memória vinha feliz. Bons tempos de cachaceiro mulherengo. Mas começou a cair pelas tabelas e a esposa, por intermédio do irmão, o levou para trabalhar no time e lá ele se ajeitou e, influenciado por um dos craques, passou a freqüentar a igreja.
Nunes quase desaba de rir do pai com as mãos na canela, buscou a bola no portão do vizinho e deu na mão do coroa, que recuperado experimentou umas embaixadas, chamando o filho para a peleja ajustando a bola com a canhota, apenas com o dedão do pé levemente encostado ao lado dela. Nunes aproximou-se decidido, em passos largos entrou centralizando a defesa. Dedão rapidamente empurrando a bola para a direita, pé passando por cima, e a volta da bola para a esquerda num toque de final explosivo, mas preciso, o elástico estava dado, e Nunes se virou observando o velho correr para os chinelos que estavam no chão servindo de gol da pelada dele e do amigo. Gol do pai. Felicidade de Nunes, orgulho e vergonha confundidos, compartilhados.
Pouco tempo depois daquilo o pai faleceu. Nunes afundou em depressão e largou a bola. Um dia foi a um show de samba, convite de amigos que tentavam animá-lo, tocou primeiro o Martinho, ficou sentado, reparou ligeiramente em uma morena, mas o pensamento o arrastou de volta, depois veio a Beth, e o incomodo piorou, todo mundo muito feliz, e ele só lembrava do pai correndo para o gol. Mais tarde, João Nogueira já tocava os acordes finais, ouviu um violão triste e a letra falando dele, do pai, a sua vida vindo na lembrança, ficou feliz por um tempo, mas logo a música o carrega, “Num dia de tristeza me faltou o velho/ E falta lhe confesso que ainda hoje faz/ E me abracei na bola e pensei ser um dia/ Um craque da pelota ao me tornar rapaz/ Um dia chutei mal e machuquei o dedo/ E sem ter mais o velho pra tirar o medo/ Foi mais uma vontade que ficou pra trás”. Ouviu a música com atenção, o nó crescendo na garganta, a cabeça parecia inchar, o mundo lhe saindo pelos olhos, terminada a música, correu. Ninguém o alcançou.
Dia seguinte estava em frente à sede do time, pouco tempo depois era titular. Em casa, a foto do pai no Maracanã vestindo o manto, muito sorridente ainda com o copo de cerveja na mão, exigência da mãe. Exigência de Nunes.
Tornou-se ídolo e marcava seus gols. O time era um sonho, e ganhar o Campeonato Brasileiro parecia realidade, era possível. Mas o jogo de ida foi duro e eles perderam. No jogo de volta os dois times fizeram uma partida emocionante, empataram em dois a dois no segundo tempo. Estádio lotado, tomado pela emoção, Nunes disparou rumo a lateral esquerda e recebeu um belo passe, lançamento longo, chutou em cima do zagueiro e a bola voltou correndo para a linha de fundo, Nunes parou de frente para o defensor e o mundo silenciou em sua cabeça, pareceu uma eternidade o que se passou em uns dois segundos. Lembrou do velho, do drible que tomou no dia em que chutou a canela do pai. Olhou para cima, fitou o jogador adversário como se fosse lançar, mas deu o drible para a esquerda, com a perna direita tocou para dentro, com o mesmo efeito de um elástico e deixou o marcador para trás, correu em direção ao gol, arrumou em um toque a bola e de bico desferiu o gol do título. O mundo gritava seu nome, e ele o do seu pai.
Nunes quase desaba de rir do pai com as mãos na canela, buscou a bola no portão do vizinho e deu na mão do coroa, que recuperado experimentou umas embaixadas, chamando o filho para a peleja ajustando a bola com a canhota, apenas com o dedão do pé levemente encostado ao lado dela. Nunes aproximou-se decidido, em passos largos entrou centralizando a defesa. Dedão rapidamente empurrando a bola para a direita, pé passando por cima, e a volta da bola para a esquerda num toque de final explosivo, mas preciso, o elástico estava dado, e Nunes se virou observando o velho correr para os chinelos que estavam no chão servindo de gol da pelada dele e do amigo. Gol do pai. Felicidade de Nunes, orgulho e vergonha confundidos, compartilhados.
Pouco tempo depois daquilo o pai faleceu. Nunes afundou em depressão e largou a bola. Um dia foi a um show de samba, convite de amigos que tentavam animá-lo, tocou primeiro o Martinho, ficou sentado, reparou ligeiramente em uma morena, mas o pensamento o arrastou de volta, depois veio a Beth, e o incomodo piorou, todo mundo muito feliz, e ele só lembrava do pai correndo para o gol. Mais tarde, João Nogueira já tocava os acordes finais, ouviu um violão triste e a letra falando dele, do pai, a sua vida vindo na lembrança, ficou feliz por um tempo, mas logo a música o carrega, “Num dia de tristeza me faltou o velho/ E falta lhe confesso que ainda hoje faz/ E me abracei na bola e pensei ser um dia/ Um craque da pelota ao me tornar rapaz/ Um dia chutei mal e machuquei o dedo/ E sem ter mais o velho pra tirar o medo/ Foi mais uma vontade que ficou pra trás”. Ouviu a música com atenção, o nó crescendo na garganta, a cabeça parecia inchar, o mundo lhe saindo pelos olhos, terminada a música, correu. Ninguém o alcançou.
Dia seguinte estava em frente à sede do time, pouco tempo depois era titular. Em casa, a foto do pai no Maracanã vestindo o manto, muito sorridente ainda com o copo de cerveja na mão, exigência da mãe. Exigência de Nunes.
Tornou-se ídolo e marcava seus gols. O time era um sonho, e ganhar o Campeonato Brasileiro parecia realidade, era possível. Mas o jogo de ida foi duro e eles perderam. No jogo de volta os dois times fizeram uma partida emocionante, empataram em dois a dois no segundo tempo. Estádio lotado, tomado pela emoção, Nunes disparou rumo a lateral esquerda e recebeu um belo passe, lançamento longo, chutou em cima do zagueiro e a bola voltou correndo para a linha de fundo, Nunes parou de frente para o defensor e o mundo silenciou em sua cabeça, pareceu uma eternidade o que se passou em uns dois segundos. Lembrou do velho, do drible que tomou no dia em que chutou a canela do pai. Olhou para cima, fitou o jogador adversário como se fosse lançar, mas deu o drible para a esquerda, com a perna direita tocou para dentro, com o mesmo efeito de um elástico e deixou o marcador para trás, correu em direção ao gol, arrumou em um toque a bola e de bico desferiu o gol do título. O mundo gritava seu nome, e ele o do seu pai.
quinta-feira, 2 de agosto de 2007
Desde Pequenos
Nasceram gêmeos. O pai não conseguia acreditar no tamanho dos meninos. Jogador de basquete, fora campeão pelo Franca em um estadual apertado. O placar final era o nome do seu bar na avenida principal da pacata cidade do interior onde resolvera passar os restos dos seus tempos. 98X89. Educou os filhos de maneira a aprenderem todas as manhas do jogo e os meninos aplicados, ainda muito jovens, encestavam com precisão na tabela improvisada no quintal. Adílio, mais velho por uns cinco minutos, era mais encorpado, a mãe costumava dizer que ele roubava a comida ainda na barriga. Andrade era espirituoso com todos, mais leve e de melhor estatura, driblava mais que o irmão, mas ganhava topadas de ombro e ia ao chão às gargalhadas, sabia ser melhor no jogo de corpo. Foram tarde para a escola, sua mãe preferia educa-los sob seus cuidados de pedagoga mestra que se sentia na obrigação de inventar uma escola em casa, já que as da cidade eram tão simplórias que não valia o esforço de transformação e modernização aprendidas em seus anos de academia. Cansou-se da política e da briga de galos que observava e, durante algum tempo, fora obrigada a participar, para levantar recursos de pesquisas ou atingir metas traçadas ao longo de outras. Preferia a paz de seu pequeno reino, seus três amados súditos e um leal protetor, Engo, um vira-latas coxo que por sorte do destino foi achado no terreno da casa quando chegaram com a mudança, pequenino parecia forte e bonito, não tardou seus dotes sumiram e sobrou aquele indício de cão, mas a paixão havia se instalado no coração de mãe, o amor tem desses mistérios oftalmológicos.
A escola começou atrasada, uma greve de professores e funcionários defendia melhorias salariais e condições dignas nas instalações dos complexos escolares. Os meninos ouviam as histórias de sua mãe com atenção e compreendiam em parte os atrasos do calendário estudantil. A paciência e o basquete depois dos estudos caseiros moderavam as expectativas de ambos. Tinham poucos amigos e desejavam jogar em times completos. Quando a escola iniciou, tudo era muito morno e fácil. Não havia uma quadra e uma tabela onde pudessem mostrar seus valores de filhos de craque do basquete, a vantagem de seus corpos avantajados e o longo aprendizado na cesta de casa. As aulas da mesma forma eram morosas, sonolentas, e em nada lembravam os estudos com a mãe, os exemplos recheados de detalhes, estórias, lances capitais da política e os desenhos dimensionais da matemática. Voltavam para casa cansados, isolados pelo tamanho e pela inteligência. Suas vidas os condenaram à solidão, ao aparte social, se imaginavam siameses num deserto, unidos pela carne em eterna companhia.
Numa tarde de muito sol, dia quente e úmido, passaram pela loja do pai. Lá havia uma série de fotos do tempo de jogador, uma camisa devidamente enquadrada na qual havia uma dezena de assinaturas já quase apagadas pelo tempo, uma bola de basquete muito velha, de cor marrom, murcha e apoiada numa taça que vinha com letras grandes, JOGADOR DO ANO. O bar estava lotado, era domingo, o calor mantinha os copos cheios e a conversa alta. Encontraram o pai com os olhos e ele abriu uma Baré e entregou dois copos americanos para os meninos suados, um deles com a bola de basquete segura pela mão. Sentaram-se na calçada com as longas pernas abertas, bebiam o refrigerante e batiam com a bola no chão, de mão em mão passando por baixo dos quatro arcos desenhados pelas canetas.
Na tevê do bar passava futebol e os garotos, muito tímidos, se assustavam a cada grito alucinado que vinha lá de dentro. Não conheciam muito bem o bar do pai. A mãe rigorosa pelejava em distanciá-los daquele ambiente insalubre. Conheciam futebol, mas gostavam dos jogos do brasileiro de basquete que eventualmente passavam na Bandeirantes. Outros jogos só existiam em suas imaginações, porque nem na rádio ouviam noticias, brincavam de narrar os jogos dos times até chegarem ao placar escrito nos jornais, revezavam o ganhador para não haver brigas, decisão paterna que aproximou os irmãos amigos.
A curiosidade era demais também, tanta alegria deve ter um bom motivo, foram ver o jogo com os loucos do bar. Não precisaram se aproximar muito, a altura bastava para a cabeça de cada cachaceiro servir de porta-copo. E no placar da tevê aparecia escrito, Flamengo 2X0 Vasco. Um jogo longe, no Rio de Janeiro. O pai notando a curiosidade juvenil chamou os dois para o balcão, Vocês gostam de Futebol, perguntou. Os meninos se olharam e pareciam pensar, ficou louco. O pai entendeu, apresentou o jogo em linhas rápidas, e os fez acompanhar um jogador especial que estava em campo. Não tardou o meia invadiu a área pelo centro do gramado, correndo em movimentos pendulares a cada marcador que ficava para trás, num derradeiro corte derrubou o arqueiro e guardou a bola nos fundos da rede. O grito geral. Garrafas caindo. Homens velhos se abraçando. Uns poucos de cabeça abaixada. Os meninos se arrepiaram. Num movimento instantâneo, de gêmeos, se olharam com as lágrimas descendo do rosto, um espelho.
Nasciam ali dois flamenguistas. O resto de parede do bar foi preenchido com o pôster do campeonato nacional daquele ano e fotos do Galinho. O rádio de pilha passou a fazer parte do campo de basquete familiar, ficava pendurado em um galho de mangueira para que o som chegasse até os jovens. Hoje, Adílio e Andrade são jornalistas. Na televisão do bar o velho pai acompanha as narrações do filho, orgulha-se da inteligência e coragem das observações de Adílio. Ao lado da antiga caixa registradora, o jornal aberto na página de esportes, no topo a manchete Milhões Sem Sorte e o texto severo de Andrade que não perdoa nem dirigentes, nem jogadores, pelo atual estado de seu time do coração. O pôster daquele campeonato está em casa, coberto de fita durex, pendurado na porta do armário do quarto dos dois irmãos.
A escola começou atrasada, uma greve de professores e funcionários defendia melhorias salariais e condições dignas nas instalações dos complexos escolares. Os meninos ouviam as histórias de sua mãe com atenção e compreendiam em parte os atrasos do calendário estudantil. A paciência e o basquete depois dos estudos caseiros moderavam as expectativas de ambos. Tinham poucos amigos e desejavam jogar em times completos. Quando a escola iniciou, tudo era muito morno e fácil. Não havia uma quadra e uma tabela onde pudessem mostrar seus valores de filhos de craque do basquete, a vantagem de seus corpos avantajados e o longo aprendizado na cesta de casa. As aulas da mesma forma eram morosas, sonolentas, e em nada lembravam os estudos com a mãe, os exemplos recheados de detalhes, estórias, lances capitais da política e os desenhos dimensionais da matemática. Voltavam para casa cansados, isolados pelo tamanho e pela inteligência. Suas vidas os condenaram à solidão, ao aparte social, se imaginavam siameses num deserto, unidos pela carne em eterna companhia.
Numa tarde de muito sol, dia quente e úmido, passaram pela loja do pai. Lá havia uma série de fotos do tempo de jogador, uma camisa devidamente enquadrada na qual havia uma dezena de assinaturas já quase apagadas pelo tempo, uma bola de basquete muito velha, de cor marrom, murcha e apoiada numa taça que vinha com letras grandes, JOGADOR DO ANO. O bar estava lotado, era domingo, o calor mantinha os copos cheios e a conversa alta. Encontraram o pai com os olhos e ele abriu uma Baré e entregou dois copos americanos para os meninos suados, um deles com a bola de basquete segura pela mão. Sentaram-se na calçada com as longas pernas abertas, bebiam o refrigerante e batiam com a bola no chão, de mão em mão passando por baixo dos quatro arcos desenhados pelas canetas.
Na tevê do bar passava futebol e os garotos, muito tímidos, se assustavam a cada grito alucinado que vinha lá de dentro. Não conheciam muito bem o bar do pai. A mãe rigorosa pelejava em distanciá-los daquele ambiente insalubre. Conheciam futebol, mas gostavam dos jogos do brasileiro de basquete que eventualmente passavam na Bandeirantes. Outros jogos só existiam em suas imaginações, porque nem na rádio ouviam noticias, brincavam de narrar os jogos dos times até chegarem ao placar escrito nos jornais, revezavam o ganhador para não haver brigas, decisão paterna que aproximou os irmãos amigos.
A curiosidade era demais também, tanta alegria deve ter um bom motivo, foram ver o jogo com os loucos do bar. Não precisaram se aproximar muito, a altura bastava para a cabeça de cada cachaceiro servir de porta-copo. E no placar da tevê aparecia escrito, Flamengo 2X0 Vasco. Um jogo longe, no Rio de Janeiro. O pai notando a curiosidade juvenil chamou os dois para o balcão, Vocês gostam de Futebol, perguntou. Os meninos se olharam e pareciam pensar, ficou louco. O pai entendeu, apresentou o jogo em linhas rápidas, e os fez acompanhar um jogador especial que estava em campo. Não tardou o meia invadiu a área pelo centro do gramado, correndo em movimentos pendulares a cada marcador que ficava para trás, num derradeiro corte derrubou o arqueiro e guardou a bola nos fundos da rede. O grito geral. Garrafas caindo. Homens velhos se abraçando. Uns poucos de cabeça abaixada. Os meninos se arrepiaram. Num movimento instantâneo, de gêmeos, se olharam com as lágrimas descendo do rosto, um espelho.
Nasciam ali dois flamenguistas. O resto de parede do bar foi preenchido com o pôster do campeonato nacional daquele ano e fotos do Galinho. O rádio de pilha passou a fazer parte do campo de basquete familiar, ficava pendurado em um galho de mangueira para que o som chegasse até os jovens. Hoje, Adílio e Andrade são jornalistas. Na televisão do bar o velho pai acompanha as narrações do filho, orgulha-se da inteligência e coragem das observações de Adílio. Ao lado da antiga caixa registradora, o jornal aberto na página de esportes, no topo a manchete Milhões Sem Sorte e o texto severo de Andrade que não perdoa nem dirigentes, nem jogadores, pelo atual estado de seu time do coração. O pôster daquele campeonato está em casa, coberto de fita durex, pendurado na porta do armário do quarto dos dois irmãos.
terça-feira, 10 de julho de 2007
O jogador, o político e o trabalhador
Nos primeiros passos já se encontraram na viela que unia os barracos da favela. Costumavam brigar entre si pelos espaços mais planos do beco para jogarem paredão. Muito desajeitados corriam atrás da bola dente-de-leite, lá ia ela despencando ladeira abaixo, e cresceram com pernas fortes e pulmões fartos. Pouco antes da adolescência já eram peladeiros respeitados entre os colegas. Marinho estudava na escola do bairro de baixo, sua mãe trabalhava como doméstica para famílias abastadas e conseguiu uma vaga para o filho, tinha bolsa integral, e como era forte e bom jogador, entrou para a seleção da escola. Garoto estudioso, atleta aplicado, procurava se destacar na escola. Não gostava de voltar para casa muitas vezes, se sentia culpado por ter uniforme caro e oportunidades melhores que seus amigos. Ficava na rua procurando campos para jogar futebol, e às vezes jogava em três ou quatro no mesmo dia, chegava em casa exausto, mas só dormia depois que a avó tomava sua lição de casa. Velha integra e orgulhosa, falava ao seu ouvido que ele iria sair daquela vida de miséria com as próprias pernas. De fato.
Mozer não tinha uma boa família, como tantos da favela seu pai saíra de casa, sua mãe tomou o mesmo rumo do marido e bebia quase todo o orçamento familiar. Seus irmãos, quase todos mais velhos, trabalhavam com pequenos serviços para o tráfico, não eram ambiciosos, então não preocupavam a irmã mais velha. Ela escolheu Mozer como cria, ele era diferente, exigente em tudo que fazia, já mostrava raça encarando os mais velhos nas pequenas desavenças familiares e criticava o modo com que eram tratados na rua quando ela o levava junto para o supermercado onde trabalhava. Mozer ia cedo para a escolinha da favela e fazia os deveres de casa acompanhado da irmã, que ainda vigiava os horários das peladas, quando anoitecia buscava o menino pela mão para descansar e não se misturar com os malandros.
Tita era o mais abusado dos três nas peladas, jogava na frente zombando dos outros meninos, colocava entre as canetas, dava chapéu, só não fazia muitos gols. Seu negócio era abusar da paciência dos colegas. Irritava Mozer que pelo espírito competitivo e força de liderança queria que seu time vencesse, e muitas vezes perdiam, porque Tita brincava demais e não batia pro gol. Subia a ladeira aos reclames do amigo e corria fazendo galhofa, lembrando da entortada que dera no chefe dos irmãos de Mozer. Não era muito medroso, e até para os traficantes o horário do futebol era sagrado, como Tita apenas demonstrava habilidade, deixavam passar. Também tinha seu pai, que era homem respeitado na comunidade, já tinha sido vereador. Ele que conseguiu o terreno do campo de futebol, que arrumou verba para a construção da pista de skate, que montou o centro de convivência jovem, de onde tem saído muito músico, cantor de rap, dançarinas, cantoras, enfim, seu objetivo é manter os jovens ocupados, e tem se saído bem. O garoto era protegido.
Marinho cursava faculdade de biologia na federal, pirou com um documentário sobre vida animal e queria fazer aquilo, mas um olheiro o levou para o América, nem passou por peneira, foi direto para o profissional e já tem gente no exterior de olho nele, mas na imprensa dizem que o Tricolor e o Flamengo fizeram propostas tentadoras. Comprou um apartamento pequeno para a irmã e a mãe morarem e sonha em abrir um pequeno negócio para os irmãos. Dois estão de avião ainda, só pelos trocados, e outros dois são coletores de papel de uma cooperativa, tiveram medo demais do que viam.
Mozer parou com o futebol e até ganhou uns quilinhos. A cara está redonda e a barriga saliente. Um tempo atrás fazia parte da rádio comunitária, gostava de ser animador das festas que o pai de Tita organizava e acabou sendo influenciado pelo coroa. O velho um dia olhou diferente para o garoto que lia seus textos na rádio. As palavras eram sofisticadas para um jovem, seu pensamento politizado e ao mesmo tempo poético. Encantou o velho que como o olheiro no futebol, recrutou Mozer para seu time. Hoje continua seus estudos, com muito sofrimento conseguiu passar em filosofia na faculdade estadual e já fala como político, anda pela favela com desenvoltura e conseguiu se candidatar para vereador. Um verdadeiro carismático, afirma o pai de Tita.
Esse por sua vez não gostava de escola, apesar de demonstrar inteligência quando apertado pelas professoras, mas não se entendia com história, geografia, sociologia, tudo lhe parecia enganador. Sair da sala e entrar na favela o irritava, não reconhecia seu mundo nos livros e corria para a pelada, ali ele esquecia tudo e zombava da vida com seus dribles e cortes, continua muito amigo de Marinho e Mozer, faz questão de recebe-los em seu apartamento na Barra. Exato, virou empresário dos grupos de pagode que se formavam no centro de convivência e, com o dinheiro entrando, fez saltos altos, comandando seu selo independente. Desfila na favela sempre que tem tempo, procura os meninos bons de bola e os apresenta nas peneiras, para os que conseguem entrar ele garante contrato. Joga bola em um clube social e tem orgulho da foto na sala abraçado com o Péle e o Chico Buarque, numa pelada de seu time contra o Politheama, perderam sem gols, mas Tita deu um chapéu no músico e um elástico no Rei.
Mozer não tinha uma boa família, como tantos da favela seu pai saíra de casa, sua mãe tomou o mesmo rumo do marido e bebia quase todo o orçamento familiar. Seus irmãos, quase todos mais velhos, trabalhavam com pequenos serviços para o tráfico, não eram ambiciosos, então não preocupavam a irmã mais velha. Ela escolheu Mozer como cria, ele era diferente, exigente em tudo que fazia, já mostrava raça encarando os mais velhos nas pequenas desavenças familiares e criticava o modo com que eram tratados na rua quando ela o levava junto para o supermercado onde trabalhava. Mozer ia cedo para a escolinha da favela e fazia os deveres de casa acompanhado da irmã, que ainda vigiava os horários das peladas, quando anoitecia buscava o menino pela mão para descansar e não se misturar com os malandros.
Tita era o mais abusado dos três nas peladas, jogava na frente zombando dos outros meninos, colocava entre as canetas, dava chapéu, só não fazia muitos gols. Seu negócio era abusar da paciência dos colegas. Irritava Mozer que pelo espírito competitivo e força de liderança queria que seu time vencesse, e muitas vezes perdiam, porque Tita brincava demais e não batia pro gol. Subia a ladeira aos reclames do amigo e corria fazendo galhofa, lembrando da entortada que dera no chefe dos irmãos de Mozer. Não era muito medroso, e até para os traficantes o horário do futebol era sagrado, como Tita apenas demonstrava habilidade, deixavam passar. Também tinha seu pai, que era homem respeitado na comunidade, já tinha sido vereador. Ele que conseguiu o terreno do campo de futebol, que arrumou verba para a construção da pista de skate, que montou o centro de convivência jovem, de onde tem saído muito músico, cantor de rap, dançarinas, cantoras, enfim, seu objetivo é manter os jovens ocupados, e tem se saído bem. O garoto era protegido.
Marinho cursava faculdade de biologia na federal, pirou com um documentário sobre vida animal e queria fazer aquilo, mas um olheiro o levou para o América, nem passou por peneira, foi direto para o profissional e já tem gente no exterior de olho nele, mas na imprensa dizem que o Tricolor e o Flamengo fizeram propostas tentadoras. Comprou um apartamento pequeno para a irmã e a mãe morarem e sonha em abrir um pequeno negócio para os irmãos. Dois estão de avião ainda, só pelos trocados, e outros dois são coletores de papel de uma cooperativa, tiveram medo demais do que viam.
Mozer parou com o futebol e até ganhou uns quilinhos. A cara está redonda e a barriga saliente. Um tempo atrás fazia parte da rádio comunitária, gostava de ser animador das festas que o pai de Tita organizava e acabou sendo influenciado pelo coroa. O velho um dia olhou diferente para o garoto que lia seus textos na rádio. As palavras eram sofisticadas para um jovem, seu pensamento politizado e ao mesmo tempo poético. Encantou o velho que como o olheiro no futebol, recrutou Mozer para seu time. Hoje continua seus estudos, com muito sofrimento conseguiu passar em filosofia na faculdade estadual e já fala como político, anda pela favela com desenvoltura e conseguiu se candidatar para vereador. Um verdadeiro carismático, afirma o pai de Tita.
Esse por sua vez não gostava de escola, apesar de demonstrar inteligência quando apertado pelas professoras, mas não se entendia com história, geografia, sociologia, tudo lhe parecia enganador. Sair da sala e entrar na favela o irritava, não reconhecia seu mundo nos livros e corria para a pelada, ali ele esquecia tudo e zombava da vida com seus dribles e cortes, continua muito amigo de Marinho e Mozer, faz questão de recebe-los em seu apartamento na Barra. Exato, virou empresário dos grupos de pagode que se formavam no centro de convivência e, com o dinheiro entrando, fez saltos altos, comandando seu selo independente. Desfila na favela sempre que tem tempo, procura os meninos bons de bola e os apresenta nas peneiras, para os que conseguem entrar ele garante contrato. Joga bola em um clube social e tem orgulho da foto na sala abraçado com o Péle e o Chico Buarque, numa pelada de seu time contra o Politheama, perderam sem gols, mas Tita deu um chapéu no músico e um elástico no Rei.
quinta-feira, 5 de julho de 2007
Três Amigos e a Bola
Lico e Raul eram lavradores e cortavam cana nas fazendas ligadas à usina da região. Junior era filho de fazendeiro, estudava na cidade e passava os finais de semana na fazenda, chegava cedo para encontrar os amigos de infância e juntar os peões para montar os times no campo recortado nos fundos do celeiro da sede. O tratorista ainda lembra do dia em que Junior pediu ao pai o campo para as peladas.
Ainda criança, o garoto apaixonou-se pela bola. Tudo em sua vida se resumia aquele objeto. Sua primeira palavra e única por muito tempo. Ele corria atrás dela, chutava, quicava, cansava a família de tanto trocar passes e obrigar primos, tios, pai, mãe, a buscar a sua querida nos lugares mais impróprios, onde ele a enfiava, mas não a alcançava. Seu completo resumo do significado da felicidade. Tudo que era bom era chamado de bola simplesmente. O doce de leite da tia estava à mesa durante o horário do almoço e ele via, apontava com o dedo e, numa ordem, falava, bola, bola! Tiravam ele do poço aonde os patos iam se banhar e ele em prantos protestava, tentando voltar para a água, bola, bola, papai! Na televisão por satélite assistia aos jogos de futebol com o avô e mostrava quantas vezes ela aparecesse na tela que ali havia uma bola, lhe pareciam inúmeras, como um sonho. Enfim, sua vida era a pelota, e ponto.
Já Lico e Raul cresceram no meio dos peões, seus pais trabalhavam como cortadores de cana para o pai de Junior. Gostavam de bola também, mas aprenderam outras palavras enquanto cresciam. Trocavam passes nos fins de tarde, quando seus pais, compadres, chegavam da roça e iam jantar. Esforçavam-se em manter a bola de meias inteira por algum tempo, mas logo tinham que assaltar furtivamente os varais vizinhos, refazer a bola e tentar não levar uma surra de cinto dos pais. Geralmente conseguiam.
Perto dos seis ou sete anos conheceram o filho do senhor das terras. Antes viram seus pais ficarem humildes com a presença daquele homem imenso que aparecera no acampamento e que dava ordens firmes para outros que eles sempre viam ali, mas que não trabalhavam, apenas olhavam os seus pais e mães cortarem a cana. Junto daquele desconhecido vinha um menino agarrado às suas calças, e que era mais ou menos do tamanho deles. Estava claramente assustado, corria os olhos em todas as direções e procurava desesperado não tocar em ninguém. Um único detalhe lhes chamou mais a atenção. No outro braço vinha com uma bola de couro, dessas de televisão, dos jogos do boteco em que seus pais costumavam beber depois do trabalho. Os olhos cresceram para a bola. A deles estava ali no chão esquecida, perdeu a importância. Não para Junior, em sua frenética procura por uma fuga, avistou a pequena bola de meias jogada no chão, soltou a calça do pai e a buscou com a mão livre, acalmou-se, correu para o carro do pai e subiu na cabine feliz, premiado pela saída de casa. Os outros dois garotos tentaram segui-lo, tomar de volta o que era deles por direito e trabalho. Mas os velhos foram mais rápidos e cada um seguro pela sua camisa teve o encontro dos olhos do pai a dizer, aquieta o facho! Sobrou a frustração. Seus pais não puderam explicar os motivos, afinal a bola era deles e o garoto a roubara, mas não tinha conversa.
Passado algum tempo, novo sumiço de meias nos quintais, nova bola, o reencontro. O garoto apareceu no acampamento distribuindo coisas com sua mãe, supervisados por outros peões. Era época de Natal. E a raiva deles pelo menino foi substituída por uma nova amizade, o garoto vendo a nova bola de meias, chegou perto deles sorrindo. Raul agarrado à bola a trouxe para as costas, escondendo, mas sucumbiu à troca. O menino vinha com uma bola de couro em uma sacola, sem pedir para trocar foi surpreendido pelo presente, mais uma bola de meias. Gostou e mostrou para a mãe o novo objeto da coleção.
Junior, com a aprovação da mãe, chamou seus novos amigos para visitá-lo na sede, assim poderia jogar futebol. A amizade cresceu entre os três, apesar de algum protesto do pai de Junior. Com pouco mais de dez anos ganhou o campo de futebol. Campeonatos foram organizados, times ganharam camisas, e os garotos começavam a mostrar que tinham talento para o negócio. Raul, como não era tão bom no drible, preferiu ir para o gol, assim também participava de todas as peladas, todo mundo queria ficar na linha. Lico foi jogar na frente, atacante rápido e de chute preciso. Junior começou como lateral esquerdo, mas jogava com as duas pernas, era inteligente, e na falta de bons laterais direitos, correu para a posição, mas entrava pelo meio quando os companheiros não conseguiam armar as bolas para o Lico. E assim cresceram, jogando bola nos intervalos do trabalho e da escola e, como companheiros de time, nos finais de semana.
Junior passou no vestibular em São Paulo, foi ser Doutor e parece que um time da capital se interessou por ele, alguém o viu jogando com os colegas em um torneio da faculdade. Lico tenta a sorte em peneiras da segunda divisão e joga em times semi-profissionais, rodando pelo interior, não reclama, gosta de mais de bola para parar. Raul virou lavrador, como seu falecido pai, precisou ajudar em casa, sua mãe ficou só e os irmãos são pequenos. Nos fins de semana continua sendo o melhor goleiro da região. Semana passada tomou um belo gol de um cara chamado Reinaldo, novo na área, mas que joga um bolão.
Ainda criança, o garoto apaixonou-se pela bola. Tudo em sua vida se resumia aquele objeto. Sua primeira palavra e única por muito tempo. Ele corria atrás dela, chutava, quicava, cansava a família de tanto trocar passes e obrigar primos, tios, pai, mãe, a buscar a sua querida nos lugares mais impróprios, onde ele a enfiava, mas não a alcançava. Seu completo resumo do significado da felicidade. Tudo que era bom era chamado de bola simplesmente. O doce de leite da tia estava à mesa durante o horário do almoço e ele via, apontava com o dedo e, numa ordem, falava, bola, bola! Tiravam ele do poço aonde os patos iam se banhar e ele em prantos protestava, tentando voltar para a água, bola, bola, papai! Na televisão por satélite assistia aos jogos de futebol com o avô e mostrava quantas vezes ela aparecesse na tela que ali havia uma bola, lhe pareciam inúmeras, como um sonho. Enfim, sua vida era a pelota, e ponto.
Já Lico e Raul cresceram no meio dos peões, seus pais trabalhavam como cortadores de cana para o pai de Junior. Gostavam de bola também, mas aprenderam outras palavras enquanto cresciam. Trocavam passes nos fins de tarde, quando seus pais, compadres, chegavam da roça e iam jantar. Esforçavam-se em manter a bola de meias inteira por algum tempo, mas logo tinham que assaltar furtivamente os varais vizinhos, refazer a bola e tentar não levar uma surra de cinto dos pais. Geralmente conseguiam.
Perto dos seis ou sete anos conheceram o filho do senhor das terras. Antes viram seus pais ficarem humildes com a presença daquele homem imenso que aparecera no acampamento e que dava ordens firmes para outros que eles sempre viam ali, mas que não trabalhavam, apenas olhavam os seus pais e mães cortarem a cana. Junto daquele desconhecido vinha um menino agarrado às suas calças, e que era mais ou menos do tamanho deles. Estava claramente assustado, corria os olhos em todas as direções e procurava desesperado não tocar em ninguém. Um único detalhe lhes chamou mais a atenção. No outro braço vinha com uma bola de couro, dessas de televisão, dos jogos do boteco em que seus pais costumavam beber depois do trabalho. Os olhos cresceram para a bola. A deles estava ali no chão esquecida, perdeu a importância. Não para Junior, em sua frenética procura por uma fuga, avistou a pequena bola de meias jogada no chão, soltou a calça do pai e a buscou com a mão livre, acalmou-se, correu para o carro do pai e subiu na cabine feliz, premiado pela saída de casa. Os outros dois garotos tentaram segui-lo, tomar de volta o que era deles por direito e trabalho. Mas os velhos foram mais rápidos e cada um seguro pela sua camisa teve o encontro dos olhos do pai a dizer, aquieta o facho! Sobrou a frustração. Seus pais não puderam explicar os motivos, afinal a bola era deles e o garoto a roubara, mas não tinha conversa.
Passado algum tempo, novo sumiço de meias nos quintais, nova bola, o reencontro. O garoto apareceu no acampamento distribuindo coisas com sua mãe, supervisados por outros peões. Era época de Natal. E a raiva deles pelo menino foi substituída por uma nova amizade, o garoto vendo a nova bola de meias, chegou perto deles sorrindo. Raul agarrado à bola a trouxe para as costas, escondendo, mas sucumbiu à troca. O menino vinha com uma bola de couro em uma sacola, sem pedir para trocar foi surpreendido pelo presente, mais uma bola de meias. Gostou e mostrou para a mãe o novo objeto da coleção.
Junior, com a aprovação da mãe, chamou seus novos amigos para visitá-lo na sede, assim poderia jogar futebol. A amizade cresceu entre os três, apesar de algum protesto do pai de Junior. Com pouco mais de dez anos ganhou o campo de futebol. Campeonatos foram organizados, times ganharam camisas, e os garotos começavam a mostrar que tinham talento para o negócio. Raul, como não era tão bom no drible, preferiu ir para o gol, assim também participava de todas as peladas, todo mundo queria ficar na linha. Lico foi jogar na frente, atacante rápido e de chute preciso. Junior começou como lateral esquerdo, mas jogava com as duas pernas, era inteligente, e na falta de bons laterais direitos, correu para a posição, mas entrava pelo meio quando os companheiros não conseguiam armar as bolas para o Lico. E assim cresceram, jogando bola nos intervalos do trabalho e da escola e, como companheiros de time, nos finais de semana.
Junior passou no vestibular em São Paulo, foi ser Doutor e parece que um time da capital se interessou por ele, alguém o viu jogando com os colegas em um torneio da faculdade. Lico tenta a sorte em peneiras da segunda divisão e joga em times semi-profissionais, rodando pelo interior, não reclama, gosta de mais de bola para parar. Raul virou lavrador, como seu falecido pai, precisou ajudar em casa, sua mãe ficou só e os irmãos são pequenos. Nos fins de semana continua sendo o melhor goleiro da região. Semana passada tomou um belo gol de um cara chamado Reinaldo, novo na área, mas que joga um bolão.
quarta-feira, 4 de julho de 2007
TIO LEANDRO
Todas as manhãs punham os barcos na água. Ainda madrugada, o time de futebol inteiro juntava-se para organizar as redes, verificar as velas e saia rumo à barra do rio, ao sabor dos ventos. A visão do mar sempre alegrava o Tio Leandro, desde menino fazia aquilo, sorria na saída do rio, todos os dias de sua vida, exceto aos domingos, dia guardado pela sua mãe para a missa e, copiando seu pai, vestia a calça social, a camisa de botões, a sandália mais nova e caminhava para a igreja. Não podia ouvir os sacros acordes finais nos teclados do velho Hammond B3, tocado pela Dona Maria da Dores, carola temida por todos os meninos, seus beliscões eram famosos e as mães sempre lhe davam razão. Corria para casa para tirar a roupa e vestir o calção.
O campinho, para o Tio Leandro, sempre existira. Na verdade, seu pai e tios foram os que derrubaram as árvores, cortaram mato e arrancaram tocos, para depois baterem a terra até a firmeza, permitindo o rolar tranqüilo da bola de couro. A encomenda era feita anualmente pelo Seu Tonho, dono da mercearia da cidade, velho aleijado pela paralisia, mas que adorava assistir aos jogos, levava o radinho de pilha e acompanhava os campeonatos estaduais pela Rádio Nacional, em prantos de tanto rir da comparação entre a narração e o que assistia ao vivo lá no campinho. Inclusive era ele quem costurava eventuais rasgos na pelota, o que o contrariava um pouco, mas quando alguém falava que o chute fatal havia sido desferido por Tio Leandro perdia a cara amarrada e costurava a pelota com certo orgulho. Tio Leandro era famoso por ter um chute potente, muito goleiro amargou dores por entrar na frente da bola, alguns nem tentavam a defesa, plantavam os pés e rezavam para o tiro passar ao lado. Corria pela esquerda. Seus passes milimétricos faziam que todos rezassem para entrarem em seu time, fazer gol era mais fácil com ele lançando e o dia de glória passava por seus pés. O gol praticamente era dele, mas estufar as redes... Bem, não havia redes, o time adversário tinha que buscar a bola no fundo do terreno. Mas fazer o gol dava o privilégio de ganhar sorvete do Seu Tonho e contar alguma vantagem.
Tio Leandro cresceu gostando de bola e de mar. Jamais saiu da sua cidade. Continuou jogando no campinho. Ensaiava ser técnico dos meus colegas de escola, mas na verdade torcia por todo mundo, gostava do jogo. Herdou a mania de Seu Tonho de se divertir com as narrações da Rádio Nacional regidas pelas nossas peladas desorganizadas. E sorria largo quando uma troca de passes bem feita ou um lançamento preciso resultavam em gol. O mesmo sorriso que ele tinha quando o barco atravessava a barra e ele e seus colegas de futebol e trabalho saiam para a pescaria.
Hoje o peixe é pouco, a gente não trabalha mais no mar. O sorriso de Tio Leandro apenas me lembro dele, quando papai me levava junto para aprender a profissão eu reparava naquele olhar perdido no horizonte e o canto da boca levantada, achando graça de alguma coisa. Ele me via observando, pegava no colo e me colocava em cima das redes para eu olhar também.
O campinho, para o Tio Leandro, sempre existira. Na verdade, seu pai e tios foram os que derrubaram as árvores, cortaram mato e arrancaram tocos, para depois baterem a terra até a firmeza, permitindo o rolar tranqüilo da bola de couro. A encomenda era feita anualmente pelo Seu Tonho, dono da mercearia da cidade, velho aleijado pela paralisia, mas que adorava assistir aos jogos, levava o radinho de pilha e acompanhava os campeonatos estaduais pela Rádio Nacional, em prantos de tanto rir da comparação entre a narração e o que assistia ao vivo lá no campinho. Inclusive era ele quem costurava eventuais rasgos na pelota, o que o contrariava um pouco, mas quando alguém falava que o chute fatal havia sido desferido por Tio Leandro perdia a cara amarrada e costurava a pelota com certo orgulho. Tio Leandro era famoso por ter um chute potente, muito goleiro amargou dores por entrar na frente da bola, alguns nem tentavam a defesa, plantavam os pés e rezavam para o tiro passar ao lado. Corria pela esquerda. Seus passes milimétricos faziam que todos rezassem para entrarem em seu time, fazer gol era mais fácil com ele lançando e o dia de glória passava por seus pés. O gol praticamente era dele, mas estufar as redes... Bem, não havia redes, o time adversário tinha que buscar a bola no fundo do terreno. Mas fazer o gol dava o privilégio de ganhar sorvete do Seu Tonho e contar alguma vantagem.
Tio Leandro cresceu gostando de bola e de mar. Jamais saiu da sua cidade. Continuou jogando no campinho. Ensaiava ser técnico dos meus colegas de escola, mas na verdade torcia por todo mundo, gostava do jogo. Herdou a mania de Seu Tonho de se divertir com as narrações da Rádio Nacional regidas pelas nossas peladas desorganizadas. E sorria largo quando uma troca de passes bem feita ou um lançamento preciso resultavam em gol. O mesmo sorriso que ele tinha quando o barco atravessava a barra e ele e seus colegas de futebol e trabalho saiam para a pescaria.
Hoje o peixe é pouco, a gente não trabalha mais no mar. O sorriso de Tio Leandro apenas me lembro dele, quando papai me levava junto para aprender a profissão eu reparava naquele olhar perdido no horizonte e o canto da boca levantada, achando graça de alguma coisa. Ele me via observando, pegava no colo e me colocava em cima das redes para eu olhar também.
terça-feira, 26 de junho de 2007
Promessa é Dívida
“Não beber é pior do que qualquer outra coisa.
Beber mal é acidente de percurso.”
Jaguar.
Algumas promessas jamais deveriam ser feitas, como por exemplo, eu ter me comprometido com o meu caro amigo de não publicar essa foto, mas os motivos são tolos e o resultado não matará ninguém, nem tão pouco arruinará seu legado para os adoradores das biritas, seu restaurante vai bem e pelo visto melhorará após reforma que está em vias de começar. Em bom tempo reunirei memórias do boteco preferido pelos Bolonistas para publicá-las neste espaço. Aguardo a conclusão das obras para publicar fatos e fotos (lembram da revista? Nossa, era ruim!).
Outras vezes vem o pior, você de fato já avisa que a promessa sugerida pelo confesso não cabe na humilde e trêmula garganta do confidente. “– Essa eu tenho que espalhar, meu!” Como aquela do amigo, inconsolável pela perda da bela namorada, que solta a pérola, “eu tava com fome, a posição dela não permitia visão e o sanduíche ali do lado, dei uma mordida e ela virou.” Como prometer?! Façamos uma lenda urbana que é melhor. A história corre o mundo e eu nem peço perdão.
Mas voltando à foto, amigos meus geralmente bebem. Bebem mesmo. Gostamos e vamos aos botecos, falamos de tudo, inclusive política, futebol e religião. Principalmente religião, porque não cometemos sacrilégios no que concerne às boas coisas do bar. Inclusive já apelidamos um boteco de Igreja. Aí lembrei de um cara que até no nome rima com o negócio, o Jaguar. Seu livro já foi lançado algum tempo, mas é pertinente cita-lo. Jaguar de Bar em Bar Confesso Que Bebi, Memórias de um Amnésico Alcoólico. Entre um bar e outro, um copo e outro, e petiscos dos mais variados, ele passeia por regadas memórias, e faz o que todos deveriam, tornar o cotidiano uma verdadeira paixão. Pois então, a foto. Em viagem à São Paulo, meus amigos sempre reservam um dia para os estrangeiros saborearem o complexo Bar Leo. No centro dessa imensa cidade, encontra-se um dos melhores chopes do Brasil. Não discuto. E o pequeno boteco reserva aos visitantes o chope cremoso e os aperitivos imaculados. Meu amigo gostou. Podem ver. A paixão resumida num abraço. Diz um outro amigo e apreciador da boa pinga, ou se vocês preferirem, cachaça, que abraço é aquele que quebra os óculos esquecidos pendurados na camisa. Abraço como esse aí na fotografia, feliz pelo encontro, agradecido pela apresentação. Todos já fizeram amizade no primeiro aperto de mão, após a apresentação formal, logo se verificam afinidades e está confirmada a fraternidade.
Os amigos paulistas e os antigos moradores da megalópole insistem em afirmar que aqui em Brasília temos apenas um suspiro do que deve ser um chope. Novamente, não discuto. Já bebi melhores, realmente. O caso é que entre outras belas características, começando pela personalidade do anfitrião, o bar do nosso amigo vende chope. Bem, o nome da bebida é o mesmo. Já o creme...
Quando apresentado ao que de melhor pode-se beber no quesito chope, o cara ficou desconcertado a ponto de apaixonar-se e demonstrar com um belo e amplo abraço o tamanho de sua satisfação pela nova amizade. Não podemos criticá-lo. Nem tão pouco repreendê-lo. De fato há algo de misterioso no encontro, na descoberta de novos amigos, parceiros, confidentes, em toda relação existe algo de namoro, de paixão. O Chope do Bar Leo e a conversa conduzida naquele ambiente, elevaram as amizades paulistas do nosso amigo a patamares de grande intimidade. Seus óculos foram quebrados, seu entendimento ampliado.
Como disse ali em cima, ele nos reserva uma mesa no seu renovado bar, farei questão de relembrar aqui as estórias e as imagens da história do seu boteco, da nossa intensa e longa amizade. Mas, nesse caso, peço perdão pela quebra da promessa. Bebamos, pois. Saúde.
Beber mal é acidente de percurso.”
Jaguar.
Algumas promessas jamais deveriam ser feitas, como por exemplo, eu ter me comprometido com o meu caro amigo de não publicar essa foto, mas os motivos são tolos e o resultado não matará ninguém, nem tão pouco arruinará seu legado para os adoradores das biritas, seu restaurante vai bem e pelo visto melhorará após reforma que está em vias de começar. Em bom tempo reunirei memórias do boteco preferido pelos Bolonistas para publicá-las neste espaço. Aguardo a conclusão das obras para publicar fatos e fotos (lembram da revista? Nossa, era ruim!).
Outras vezes vem o pior, você de fato já avisa que a promessa sugerida pelo confesso não cabe na humilde e trêmula garganta do confidente. “– Essa eu tenho que espalhar, meu!” Como aquela do amigo, inconsolável pela perda da bela namorada, que solta a pérola, “eu tava com fome, a posição dela não permitia visão e o sanduíche ali do lado, dei uma mordida e ela virou.” Como prometer?! Façamos uma lenda urbana que é melhor. A história corre o mundo e eu nem peço perdão.
Mas voltando à foto, amigos meus geralmente bebem. Bebem mesmo. Gostamos e vamos aos botecos, falamos de tudo, inclusive política, futebol e religião. Principalmente religião, porque não cometemos sacrilégios no que concerne às boas coisas do bar. Inclusive já apelidamos um boteco de Igreja. Aí lembrei de um cara que até no nome rima com o negócio, o Jaguar. Seu livro já foi lançado algum tempo, mas é pertinente cita-lo. Jaguar de Bar em Bar Confesso Que Bebi, Memórias de um Amnésico Alcoólico. Entre um bar e outro, um copo e outro, e petiscos dos mais variados, ele passeia por regadas memórias, e faz o que todos deveriam, tornar o cotidiano uma verdadeira paixão. Pois então, a foto. Em viagem à São Paulo, meus amigos sempre reservam um dia para os estrangeiros saborearem o complexo Bar Leo. No centro dessa imensa cidade, encontra-se um dos melhores chopes do Brasil. Não discuto. E o pequeno boteco reserva aos visitantes o chope cremoso e os aperitivos imaculados. Meu amigo gostou. Podem ver. A paixão resumida num abraço. Diz um outro amigo e apreciador da boa pinga, ou se vocês preferirem, cachaça, que abraço é aquele que quebra os óculos esquecidos pendurados na camisa. Abraço como esse aí na fotografia, feliz pelo encontro, agradecido pela apresentação. Todos já fizeram amizade no primeiro aperto de mão, após a apresentação formal, logo se verificam afinidades e está confirmada a fraternidade.
Os amigos paulistas e os antigos moradores da megalópole insistem em afirmar que aqui em Brasília temos apenas um suspiro do que deve ser um chope. Novamente, não discuto. Já bebi melhores, realmente. O caso é que entre outras belas características, começando pela personalidade do anfitrião, o bar do nosso amigo vende chope. Bem, o nome da bebida é o mesmo. Já o creme...
Quando apresentado ao que de melhor pode-se beber no quesito chope, o cara ficou desconcertado a ponto de apaixonar-se e demonstrar com um belo e amplo abraço o tamanho de sua satisfação pela nova amizade. Não podemos criticá-lo. Nem tão pouco repreendê-lo. De fato há algo de misterioso no encontro, na descoberta de novos amigos, parceiros, confidentes, em toda relação existe algo de namoro, de paixão. O Chope do Bar Leo e a conversa conduzida naquele ambiente, elevaram as amizades paulistas do nosso amigo a patamares de grande intimidade. Seus óculos foram quebrados, seu entendimento ampliado.
Como disse ali em cima, ele nos reserva uma mesa no seu renovado bar, farei questão de relembrar aqui as estórias e as imagens da história do seu boteco, da nossa intensa e longa amizade. Mas, nesse caso, peço perdão pela quebra da promessa. Bebamos, pois. Saúde.
segunda-feira, 11 de junho de 2007
Chorando o Leite Derramado
Faz uns anos, eu estava esquentando o leite para o lanche do jantar e me distraí com algo. O leite entornou no fogão. Eu tinha filme, mas não tinha flash, a luz da cozinha deixou essa cor, e o tremido da mão, sem tripé também, uma ligeira textura, só para aparentar um pouco de miopia.
Esse fim de semana o Flamengo - meu orgulho estampado na foto anterior - passou vergonha. Tomou uma surra, por assim dizer, do Figueirense, time com a raça serrana gaúcha que não teve dó e guardou quatro. Senta e chora falam muitos. Pois é, choro eu o meu time café com leite.
sábado, 9 de junho de 2007
Deixando Bem Claro
Só para esclarecer para aqueles que fazem do passado uma piada. Sou Flamengo. Vejam bem, não disse apenas Flamenguista. Sou Flamengo, como todo torcedor desse time, sou parte dele. Meu pai foi tricolor carioca. Lá em baixo tem maiores detalhes sobre os motivos desse e de outros amores. Mas para os incrédulos, os campeões de hoje e de outros tempos, fica o registro. A foto da camisa, foto antiga, camisa no chão, luz da sala. Um abraço.
domingo, 3 de junho de 2007
Eu quero um Samba
quinta-feira, 31 de maio de 2007
Pendurou as chuteiras
Salvador é uma cidade ímpar. Visitei meu amigo Pedro e minha amiga Perla na Bahia, e quase não acredito que eles querem trocar aquele colorido pelo branco canadense, frio, estranho... Mas, vá lá! Enquanto estão por lá, aproveitemos.
Salvador é o berço da capoeira. Luta de resistência, dança, na palavra mais sábia, um Jogo. Na Regional, Jogo vigoroso, a malandragem acrobática. Na Angola, o Jogo sutil, no meu modo de ver a malandragem com elegância, "menino, eu faço brincando o que você não faz nem nervoso", frase aproximada atribuída ao Mestre Pastinha.
Mas, nas andanças pela cidade, me deparei com essa janela, as luvas de Boxe penduradas do lado de fora. Um aviso ou uma lembrança. Talvez um chamado, uma esperança. Na cidade da capoeira, jovens lutam outra batalha. A pobreza. E em poucos lugares do nosso país, possivelmente nenhum, se faz tantos craques da nobre luta. Salvam-se pelas luvas. São levados a briga justa, entre iguais. Para um dia, quem sabe, poderem pendurar as chuteiras com toda a dignidade.
quarta-feira, 23 de maio de 2007
Flor do Cerrado
Nasci e fui criado em Brasília, tenho uma estreita relação com a cidade, conheço seus atalhos e sei contar dezenas de buracos de coruja espalhados pelas tesourinhas da capital. Minha família veio do Piauí, meu pai chegou aqui para se formar e, enquanto fazia universidade, estudou violão. Ficou bom no negócio. E durante os anos setenta até seu retorno para Teresina em 1988, sempre tocou em rodas de samba e choro nos botecos da cidade. Lembro de um em especial, o Bar do Zé na 504 Norte. Lá cresci ouvindo bambas, tomando Coca e dormindo no carro estacionado estrategicamente na porta do bar.
Brasília teve grande influência carioca em vários aspectos, mas assombrosamente tornou-se um celeiro de grandes músicos de samba. Os funcionários públicos que migraram para a cidade de Juscelino trouxeram seus instrumentos na bagagem. Trouxeram mais que isso, todo um conhecimento, uma cultura de rua, de terreiro. O Samba.
O Clube do Choro esse ano completa 30 anos. E entre os músicos famosos, os compositores geniais que fizeram parte de sua formação, estão tantos outros que das ruas fizeram seus terreiros e seus pagodes, lá estavam os amigos do meu pai tocando samba e choro, e ainda misturando ritmos nordestinos trazidos com eles. Lá estava eu, criança, assistindo a tudo. Aprendendo meu pandeiro com o Mestre Pernambuco. E participando sem saber da criação de um templo da música popular brasileira. O Clube do Choro. Acreditem, tem até filme de algum jornal local comigo tocando pandeiro, suava em bicas tentando acompanhar aqueles cobras.
O Clube do Choro reapareceu depois de problemas que não conheço bem. Parei por um tempo, depois que o velho se foi. Sabe aquele samba do João Nogueira, Espelho, pois é. A reabertura institucionalizou e profissionalizou a gestão do Clube e o Reco do Bandolim tornou-se figura reconhecida pelo seu esforço em manter e ampliar o Clube do Choro.
Mas onde eu queria mesmo chegar é na renovação que vem acontecendo de uns anos para cá. Hamilton de Holanda sempre tocou, desde menino mostrava intimidade com seu instrumento e com o choro, cabra bom! Mas faltava algo, número. A geração deu um salto, porque o samba entre os jovens daqui estava adormecido, guardado na alma, mas não executado nas mãos. Tudo um dia desperta, acredito, e hoje vemos nas ruas da cidade o samba novamente ser tocado nos botecos, nos restaurantes, nos encontros de amigos, nas festas, nos shows. Há uma exclusiva escola de Choro na cidade que descobre novos talentos e reintegra garotos e garotas na cultura musical brasileira. Há casas noturnas que se especializaram em repertórios musicais brasileiros, DJ´s que se dedicam a pesquisa da nossa música. Tudo isso com um público fiel, com rodas brotando pela cidade, o samba se reproduzindo e se recriando. A nova cara do velho choro, nome de disco do Dois de Ouro que explica bastante o que vem acontecendo por aqui.
Para não parecer injusto, o samba nunca parou de fato. No Cruzeiro, pedaço de terra fértil nos momentos de secura do plano piloto, talvez o mais carioca dos “bairros” brasilienses, o samba sempre esteve presente. Certo é que se aproximou do pagode modista, mas sempre valorizou o pagode de fundo de quintal, o verdadeiro samba de terreiro. Mas são novos tempos, na minha modesta opinião, e pela música a cidade diminui suas distâncias, cresce sua família, quando sentam nas rodas seus irmãos.
Brasília teve grande influência carioca em vários aspectos, mas assombrosamente tornou-se um celeiro de grandes músicos de samba. Os funcionários públicos que migraram para a cidade de Juscelino trouxeram seus instrumentos na bagagem. Trouxeram mais que isso, todo um conhecimento, uma cultura de rua, de terreiro. O Samba.
O Clube do Choro esse ano completa 30 anos. E entre os músicos famosos, os compositores geniais que fizeram parte de sua formação, estão tantos outros que das ruas fizeram seus terreiros e seus pagodes, lá estavam os amigos do meu pai tocando samba e choro, e ainda misturando ritmos nordestinos trazidos com eles. Lá estava eu, criança, assistindo a tudo. Aprendendo meu pandeiro com o Mestre Pernambuco. E participando sem saber da criação de um templo da música popular brasileira. O Clube do Choro. Acreditem, tem até filme de algum jornal local comigo tocando pandeiro, suava em bicas tentando acompanhar aqueles cobras.
O Clube do Choro reapareceu depois de problemas que não conheço bem. Parei por um tempo, depois que o velho se foi. Sabe aquele samba do João Nogueira, Espelho, pois é. A reabertura institucionalizou e profissionalizou a gestão do Clube e o Reco do Bandolim tornou-se figura reconhecida pelo seu esforço em manter e ampliar o Clube do Choro.
Mas onde eu queria mesmo chegar é na renovação que vem acontecendo de uns anos para cá. Hamilton de Holanda sempre tocou, desde menino mostrava intimidade com seu instrumento e com o choro, cabra bom! Mas faltava algo, número. A geração deu um salto, porque o samba entre os jovens daqui estava adormecido, guardado na alma, mas não executado nas mãos. Tudo um dia desperta, acredito, e hoje vemos nas ruas da cidade o samba novamente ser tocado nos botecos, nos restaurantes, nos encontros de amigos, nas festas, nos shows. Há uma exclusiva escola de Choro na cidade que descobre novos talentos e reintegra garotos e garotas na cultura musical brasileira. Há casas noturnas que se especializaram em repertórios musicais brasileiros, DJ´s que se dedicam a pesquisa da nossa música. Tudo isso com um público fiel, com rodas brotando pela cidade, o samba se reproduzindo e se recriando. A nova cara do velho choro, nome de disco do Dois de Ouro que explica bastante o que vem acontecendo por aqui.
Para não parecer injusto, o samba nunca parou de fato. No Cruzeiro, pedaço de terra fértil nos momentos de secura do plano piloto, talvez o mais carioca dos “bairros” brasilienses, o samba sempre esteve presente. Certo é que se aproximou do pagode modista, mas sempre valorizou o pagode de fundo de quintal, o verdadeiro samba de terreiro. Mas são novos tempos, na minha modesta opinião, e pela música a cidade diminui suas distâncias, cresce sua família, quando sentam nas rodas seus irmãos.
PS: O desenho ilustrando o texto foi feito a algum tempo. Havia a possibilidade de se fazer uma festa que teria apenas músicas dos nossos pais. MPB. E que explicasse o nosso gosto pelo som feito na nossa história. Algo como "Ei, eu estava ouvindo!".
Tinha uma vitrola lá em casa que quase nunca parava. Daí menino no traço tosco. Inté...
terça-feira, 22 de maio de 2007
Boa pedida
Tive a oportunidade de acompanhar de perto a carreira do Bandolinista Dudu Maia, que a partir de 2002 passou a tocar com a banda Choro de Calango no bar e restaurante Bella Rubia. Franklin, parceiro de choop e grande amigo, me incumbiu de achar uma atração para as tardes de sábado que combinasse com a feijoada da casa. Tradição brasileira, a música e a comida nos finais de semana viraram acompanhantes amorosas. Vários bares insistem generosamente na dupla e faço fé que permaneça assim. Pois então, conheci havia pouco tempo quem hoje vem se tornando um grande parceiro de som, o Rodrigo Barata, produtor musical, DJ, baterista, pandeirista, e grande conhecedor de boa música. Apresentei o Barata ao Franklin e passei a ser um fiel ouvinte do Choro de Calango e apreciador da feijoada do Bella. Com o tempo e a profissionalização se tornando obrigatória, Dudu Maia e seus parceiros procuraram alçar vôos mais altos e saíram do nosso boteco. Ficou a saudade que hoje matamos com o lançamento de seu primeiro trabalho solo. Seu show de estréia aconteceu no dia 03 de maio desse ano, na sala Martins Penna do Teatro Nacional Claudio Santoro. Fui, vi, ouvi e gostei. Seu desempenho supera em muito o primeiro Dudu que conheci, no começo o achava acanhado, tocava boa música, mas a banda tinha outros cobras e ele ainda não rasgava com a precisão de hoje. Agora as notas lhe saem firmes e limpas, o ritmo, a melodia, acariciam os ouvidos. A postura simpática e simples o tornou familiar no palco, como se tocasse em uma roda de amigos, despretensioso, alegre. Na companhia de George Lacerda, nas percussões; Leander Mota, na bateria; Wava el Afiouni, no baixo; e com a participação de Gabriel Grossi, na gaita cromática, fez um espetáculo emocionante, no qual nos presenteou com uma seleção inspirada e executada com rara harmonia. Mesclou clássicos do choro e composições próprias que demonstraram a maturidade que um artista dedicado e sensível pode revelar. Fica, portanto, a dica de um ótimo disco de um artista em começo de carreira que deverá nos surpreender muito. Parabéns, meu caro Dudu. Vamos em frente. Um abraço.
www.dudumaia.com
segunda-feira, 21 de maio de 2007
Vamos andando devagar
terça-feira, 8 de maio de 2007
O Henfil explica
Como não trabalho pro governo, não compreendo suas atitudes estratégicas. Mas acreditava que a Ministra Marina brigaria mais no caso do desmantelamento iniciado contra o IBAMA, orgão que pelo caráter independente e responsável pelo meio ambiente tem o poder de barrar projetos tanto particulares como governamentais. O desenvolvimento sempre é a desculpa para a construção de novas barragens e estradas, citando projetos que tem grande impacto e interesse econômico envolvidos. O desenvolvimento é uma pedra no sapato do governo Lula e pressões político-econômicas parecem influenciar as decisões relevantes para o futuro ambiental brasileiro no Palácio do Planalto. O resto faz boi dormir. Fortalecer o IBAMA, retirando suas crias podres, renovando e aumentando seus quadros técnicos e fiscalizadores, seria a atitude de um governo responsável. Todo o conhecimento acumulado em anos de trato com a diversidade ambiental do nosso território periga desaparecer. Desmembrando as competências desloca-se o diálogo entre disciplinas complementares que já ocorria nos corredores e laboratórios do IBAMA, pior, amplia a burocracia, o que permite maior desrespeito com leis de proteção ambiental. O desenvolvimento brasileiro perece, porque perde fontes valiosas de estudo e sustentabilidade. Mas o imediatismo econômico e as alianças políticas são prioridade e a nossa marcha eterna rumo ao desenvolvimento sempre feito às avessas.
quarta-feira, 25 de abril de 2007
Francamente...
Comentário rápido. Essa foto saiu hoje, dia 25/04/2007, na internet, na página da UOL. O seguinte texto acompanha a foto: “George W. Bush dança com grupo de Senegal durante evento de prevenção à malária, no jardim da Casa Branca” A foto de Jason Reed/ Reuters. Francamente, os Estados Unidos, como o resto do mundo rico, abandonaram a África a própria sorte faz muito tempo. Canso só de ver esse teatro. Mas o degradante disso é o Presidente Americano, homem que abandonou New Orleans em 25 de Agosto de 2005 quando o Furacão Katrina atingiu o sul daquele país, se utilizar da África e de homens negros para melhorar o que sobrou da sua patética imagem.
Explico a minha demora em comentar a tragédia em questão. Spike Lee, documentou os dias que se seguiram à invasão das águas e a destruição da cidade e morte do povo daquele estado americano. Em um documentário político e eloqüente apresenta dados simples para análise, a administração daquele país abandona ou simplesmente não olha para nenhuma questão que envolva pessoas pobres e negras, mesmo que se trate de um estado inteiro da sua própria federação. Agora faz essa cara de idiota procurando vincular sua imagem a uma pessoa e um grupo de cor.
Explico a minha demora em comentar a tragédia em questão. Spike Lee, documentou os dias que se seguiram à invasão das águas e a destruição da cidade e morte do povo daquele estado americano. Em um documentário político e eloqüente apresenta dados simples para análise, a administração daquele país abandona ou simplesmente não olha para nenhuma questão que envolva pessoas pobres e negras, mesmo que se trate de um estado inteiro da sua própria federação. Agora faz essa cara de idiota procurando vincular sua imagem a uma pessoa e um grupo de cor.
O filme em quatro partes passa na HBO esse mês, e espero que continue, por isso a atualidade do tema e da indignação...
Assistam:
Assistam:
Sobre Os Bolonistas
Como um time de futebol, Os Bolonistas têm onze jogadores, no caso escritores. Se bem que alguns jogam futebol de botão, mas ao publicar idéias tornam-se escritores, e o futebol comentado, descrito, cronicado, geralmente trata daquele com jogadores reais, peladeiros profissionais. No entanto, no jogo com palavras surgem, de texto em texto, verdadeiros craques. Jogadores criativos e com personalidade, de belas jogadas, dribles memoráveis. Alguns são mais participativos, posicionam-se em campo e nos surpreendem constantemente com jogadas de efeito, outros mais tímidos jogam na retaguarda e saem ao ataque poucas vezes, mas marcam golaços. Há os artilheiros, são poucos sempre, mas não vivem sem o time, por um lado porque as jogadas ensaiadas, os levantamentos dentro da área, partem dos companheiros de time. Acredito, não há jogada totalmente individual. Grandes gols nascem de armações complexas. Mas os artilheiros são imprevisíveis. Outros jogadores fazem milagres às vezes, fazem que vão dar o cruzamento, e partem com a bola rumo à meta. O futebol permite inumeráveis variações táticas e técnicas, formando grandes times quando equilibra forças por todo o campo.
O nosso campo de treinamento, nosso estádio, nossa arquibancada, a mesa de bar. Lugar sacro de criação de jogadas, planejamento estratégico de jogos. Entre um aperitivo e um gole na cerveja, uma bola é alçada na área e o gol está preparado. Cabe ao craque a conclusão final, o estufar das redes.
A comparação não pode ser perfeita porque não posso distribuir por nome e posição nossos onze homens dentro de um campo de futebol. Mas o fato de escreverem sobre futebol com paixão e técnica, conhecimento e beleza, me permite espelhar cada um a seu modo com um craque da bola, um grande técnico ou uma torcida apaixonada e vibrante.
Também nem tudo são alegrias, o time não ganha sempre. Há dias em que o jogador não vai bem, como poderia? O Romário teima, mas não guarda o milésimo, Ronaldo Gaúcho não virou na seleção, o Gordo engorda. Mas quem gosta sabe, o mil sairá, virá outra copa e o Ronaldo é o Ronaldo. Nosso time não piora com o tempo, ao contrário ganha experiência e umas gordurinhas que no peladeiro atrapalhariam. Quando alguém perde o passe ou chuta errado para o gol, certamente faltou concentração, entrou afobado na bola.
Veja bem, no futebol de hoje os times não são compostos de crias da casa. Compramos, vendemos e emprestamos jogadores. Sofremos de problemas semelhantes, os times de base dos nossos jogadores são diversos, suas formações iniciais ímpares, com técnicos mais ou menos exigentes em um e outro fundamento. Também acontecem, como em qualquer concentração, as questões de convivência, mas tudo se resolve e o time prevalece.
Escrevo isso pensando que nosso time andou por baixo nas tabelas, a copa foi genial, mas o resultado decepcionou, amansou os jogadores. No entanto, vem aí o grande campeonato e parece que os ânimos se fortalecem, os boleiros recuperam as forças, preparando-se para as pelejas. Percebo que há renovação no time, o mesmo time inspirado sobretudo.
Não sou craque, jogo porque gosto. Digamos assim um Nunes, poucos gols, mas às vezes decisivos. Pretensão minha?! Deixa estar... Um pouco de Dadá...
O nosso campo de treinamento, nosso estádio, nossa arquibancada, a mesa de bar. Lugar sacro de criação de jogadas, planejamento estratégico de jogos. Entre um aperitivo e um gole na cerveja, uma bola é alçada na área e o gol está preparado. Cabe ao craque a conclusão final, o estufar das redes.
A comparação não pode ser perfeita porque não posso distribuir por nome e posição nossos onze homens dentro de um campo de futebol. Mas o fato de escreverem sobre futebol com paixão e técnica, conhecimento e beleza, me permite espelhar cada um a seu modo com um craque da bola, um grande técnico ou uma torcida apaixonada e vibrante.
Também nem tudo são alegrias, o time não ganha sempre. Há dias em que o jogador não vai bem, como poderia? O Romário teima, mas não guarda o milésimo, Ronaldo Gaúcho não virou na seleção, o Gordo engorda. Mas quem gosta sabe, o mil sairá, virá outra copa e o Ronaldo é o Ronaldo. Nosso time não piora com o tempo, ao contrário ganha experiência e umas gordurinhas que no peladeiro atrapalhariam. Quando alguém perde o passe ou chuta errado para o gol, certamente faltou concentração, entrou afobado na bola.
Veja bem, no futebol de hoje os times não são compostos de crias da casa. Compramos, vendemos e emprestamos jogadores. Sofremos de problemas semelhantes, os times de base dos nossos jogadores são diversos, suas formações iniciais ímpares, com técnicos mais ou menos exigentes em um e outro fundamento. Também acontecem, como em qualquer concentração, as questões de convivência, mas tudo se resolve e o time prevalece.
Escrevo isso pensando que nosso time andou por baixo nas tabelas, a copa foi genial, mas o resultado decepcionou, amansou os jogadores. No entanto, vem aí o grande campeonato e parece que os ânimos se fortalecem, os boleiros recuperam as forças, preparando-se para as pelejas. Percebo que há renovação no time, o mesmo time inspirado sobretudo.
Não sou craque, jogo porque gosto. Digamos assim um Nunes, poucos gols, mas às vezes decisivos. Pretensão minha?! Deixa estar... Um pouco de Dadá...
quarta-feira, 11 de abril de 2007
Explica-se...
Meus amigos irão adorar essa foto e a postagem será lembrada pela certeza de um deles, sou tricolor. Mas não sou. O texto aí embaixo explica. O Demas, o Boris e o Lucílio, dois amigos e um amigo-irmão, porque cunhado, são tricolores. O primeiro São Paulino, os outros dois, como o meu pai, torcem pelo Fluminense. Entusiastas os três, adoram futebol, conhecem os times e seus jogadores, guardam datas e características dos ídolos. Com o Demas temos em comum um outro blog, Os Bolonistas, uma página coletiva na qual o texto citado foi originalmente publicado e, tendo em vista a publicação e o tom sentimental dado ao texto, o fez apostar na minha torcida pelo tricolor carioca. Lá no outro blog tentei uma vez publicar a foto para os amigos, mas não consegui, não sei porque. Aqui fica o registro, portanto.
A foto é ótima. Minha irmã parece caçoar de mim, e eu estou devidamente armado contra as galhofas alheias. Davam-se armas para crianças brincarem nessa época (jamais a minha mãe o faria, mas no Piauí eu ficava sob outros cuidados), combinando com o meu humor meio explosivo. Mas na foto estou bem, obrigado! A casa da Vovó era ótima, eu devia está bem feliz nestas férias...
Divirtam-se...
Republicando...
Sou flamenguista. Isso não ocorreu por acaso ou desejo paterno, o velho era fluminense. Meu saudoso pai por vezes tentou me inspirar a paixão tricolor. Presenteou-me uma vez com a camisa do seu time do coração, mas a dureza da época devia ser grande e ela era vários números acima do meu, a bicha vinha até o joelho, mais parecia um vestido. Namorada e amigos vendo antigas fotos de família me ridicularizam até hoje pelo uso infantil da gloriosa camisa tricolor que combinava pelo colorido com aquela fase da vida, ingênua e feliz, correndo pelas ruas de Teresina, onde foram tiradas as fotografias, mas não combinam com o flamenguista já adulto.
Tomei gosto por futebol já grande. Não fui infante bom peladeiro, fazia uma graça de vez em quando, e já me valia a alegria daquele único gol no meio da tarde de semana no horário do dever de casa, subindo imundo aos reclames da mãe e da avó. Pois então, paixões por camisas não me diziam respeito.
Sem querer fazer sociologia, o Brasil é esse país de idiossincrasias, não crescemos nunca, fazemos CPIs inócuas, o carroceiro toca seu cavalo em meio à pista do congresso federal e mora no cerrado com vista à bandeira nacional naquele mastro enorme que os militares mandaram construir. Mas entre as belas peculiaridades seus jovens peladeiros têm um poder alquímico. Transformam velhos doentes em jovens entusiasmados. Trabalhadores findam a semana a espera do milagroso gol, do drible desconcertante, do remédio.
Eu jovem e ainda com toda a minha saúde, no início dos anos da nova esperança brasileira, vi crescer para o futebol brasileiro quem seria um de seus maiores ídolos, Arthur Antunes Coimbra, o Zico, é claro! Para nós, o Galinho de Quintino. Tornei-me Flamengo.
A camisa do meu pai sumiu entre tantas coisas do passado, sumiu também o presente que uma tia me deu no retorno de uma dentre tantas de suas viagens, um autógrafo do Zico. Nunca me esqueço disso. Não sei como aquele pequeno pedaço de papel guardado com tanto carinho desapareceu.
Escrevo isso para lembrar do autógrafo do meu ídolo, que um dia tive e que parece que o tenho em minhas mãos agora, lembrar do meu pai tricolor, lembrar que existe futebol, e que podemos abraçar nossos ídolos, nossos médicos do dia-a dia.
Tomei gosto por futebol já grande. Não fui infante bom peladeiro, fazia uma graça de vez em quando, e já me valia a alegria daquele único gol no meio da tarde de semana no horário do dever de casa, subindo imundo aos reclames da mãe e da avó. Pois então, paixões por camisas não me diziam respeito.
Sem querer fazer sociologia, o Brasil é esse país de idiossincrasias, não crescemos nunca, fazemos CPIs inócuas, o carroceiro toca seu cavalo em meio à pista do congresso federal e mora no cerrado com vista à bandeira nacional naquele mastro enorme que os militares mandaram construir. Mas entre as belas peculiaridades seus jovens peladeiros têm um poder alquímico. Transformam velhos doentes em jovens entusiasmados. Trabalhadores findam a semana a espera do milagroso gol, do drible desconcertante, do remédio.
Eu jovem e ainda com toda a minha saúde, no início dos anos da nova esperança brasileira, vi crescer para o futebol brasileiro quem seria um de seus maiores ídolos, Arthur Antunes Coimbra, o Zico, é claro! Para nós, o Galinho de Quintino. Tornei-me Flamengo.
A camisa do meu pai sumiu entre tantas coisas do passado, sumiu também o presente que uma tia me deu no retorno de uma dentre tantas de suas viagens, um autógrafo do Zico. Nunca me esqueço disso. Não sei como aquele pequeno pedaço de papel guardado com tanto carinho desapareceu.
Escrevo isso para lembrar do autógrafo do meu ídolo, que um dia tive e que parece que o tenho em minhas mãos agora, lembrar do meu pai tricolor, lembrar que existe futebol, e que podemos abraçar nossos ídolos, nossos médicos do dia-a dia.
quinta-feira, 5 de abril de 2007
Pôr do Sol em Rio Novo
Rio Novo dos Lençóis foi a cidade na qual eu iniciei minhas pesquisas sobre memória. Quando tinha algum tempo, caminhava pela cidade tentando captar imagens cotidianas. Nesse dia um garoto dava água para seu cavalo, cena que retratei mais de uma vez, sempre algum homem entrava no rio com seu animal para lhe dar banho e hidratá-lo após um dia de labuta. Essa foto eu gostei porque a luz de fim de dia deu um colorido ao céu interessante e, como a imagem foi tirada de frente para o ocaso, permitiu ao garoto e seu cavalo ficarem como sombras no rio. Espero que as cores saiam aqui com a intensidade que estavam na ampliação. Depois tem mais...
sexta-feira, 30 de março de 2007
Perto do Fogo
Na madrugada desta quarta-feira foram incendiadas quatro portas de quartos da Casa do Estudante da UnB. Após relatados à Reitoria da universidade os problemas relativos à xenofobia e racismo anônimos ocorridos nos prédios residenciais dos estudantes nada ainda havia sido feito. Pichações com motivos racistas e xenófobos foram ostensivamente escritos em portas e paredes do dormitório. Apesar dos protestos dos alunos o silêncio sobre o assunto foi a política da universidade. Alunos africanos são convidados entre nós para participarem de programas de ensino, tanto na graduação como na pós, no entanto, a democracia racial defendida pela reitoria como parte da história da universidade, que sempre lutou pelos direitos sociais, não parece ser a verdade. A justificativa de que a universidade foi pioneira na discussão e implantação das cotas para negros também não parece redimi-la da culpa de, como em qualquer ambiente desse país, o racismo ser uma pauta pouco discutida e uma prática constante. Houve, todavia, uma oposição de discursos não levada em consideração e deixada em aberto, as opiniões contrárias à implantação das cotas eram, em grande medida, discursos do racismo às inversas, e reclamava-se energeticamente da existência de pólos raciais no Brasil, gerando antipatia contra aqueles que buscavam dar visibilidade ao fato social brasileiro da existência de racismo entre nós, e da necessidade de buscar soluções rápidas para a educação formal de grupos de cor nos quadros universitários, tendo em vista formas culturais e lugares de atuação distintos desses novos alunos, o que traria novos desafios intelectuais e de convivência para o interior da universidade.
A UnB, como qualquer outra universidade brasileira, não está acostumada com distâncias sócio-culturais e discussões sobre racismo, porque não tinha e não tem número significativo de negros em situação acadêmica homogênea. Há pouco tempo, antes das cotas principalmente, os negros da universidade estavam em sua maioria nos quadros funcionais, não nos de comando administrativo e científico, mas na faxina, no restaurante, no cuidado com os jardins. E a burocracia dos departamentos parecia o degrau maior que um negro alcançaria na hierarquia institucional.
Quando as cotas foram apresentadas e aplicadas ao dia a dia institucional, houve uma crescente e silenciosa manifestação, que não podemos chamar de racista a priori, de pais e alunos principalmente, que se sentiram injustiçados pelo sistema. Com o discurso da competência atacaram as cotas sob a acusação de levar alunos menos preparados para a universidade, leia-se negros e pobres, porque alunos da rede pública de educação. Esse e outros discursos tomaram forma e força, mas até agora não foram levados em consideração, porque discutir o racismo embutido na mente da classe média e alta brasiliense, me parece, pode ser algo perigoso para a universidade. Mas talvez tenha gradativamente despertado nossos monstros interiores, tenha acordado o racismo real, não o disfarçado na conversa de diversidade e democracia racial, mas o real, o violento, o discriminatório e segregacionista.
Brasília, sabemos, é recortada por áreas, onde o Plano Piloto branco e privilegiado separa geograficamente a periferia, diferente de várias outras cidades em que o encontro das diferenças é fato e cotidiano, aqui não percebemos o pobre e o negro, os isolamos a alguns seguros quilômetros do nosso centro “limpo”, da nossa convivência. Mas a UnB promoveu a aproximação de uma pequena parcela da população negra brasiliense e também trouxe alunos africanos e negros para estudarem aqui, obrigando desta forma o estreitamento de uma relação que encontrava-se sob controle, obrigando a comunicação e intercâmbio culturais. No entanto, feriu alguns, abriu chagas escondidas em falsas cicatrizes históricas que não percebidas em seus tempos repercutem em nossa realidade. Cá estamos com um ato de violência sem precedentes na universidade contra um grupo específico, despreparados para explicar convincentemente àqueles que sofreram a agressão o porquê de tamanho ódio contra eles, afinal, os convidamos à nossa convivência. Despreparados para explicar à nossa própria comunidade universitária, ou à nossa cidade. Curiosos por entender as motivações pessoais que levaram a uma ou mais pessoas a atacarem com fogo a casa de outras, com o risco ou vontade de causar sofrimento físico e psicológico. E medo, muito medo, de que essas pessoas sejam representantes de um pensamento encolhido e prestes a se libertar, representantes de uma intolerância e ignorância que deveríamos combater sempre e que muitas vezes esquecemos porque mais conveniente, porque talvez queiramos manter.
A UnB, como qualquer outra universidade brasileira, não está acostumada com distâncias sócio-culturais e discussões sobre racismo, porque não tinha e não tem número significativo de negros em situação acadêmica homogênea. Há pouco tempo, antes das cotas principalmente, os negros da universidade estavam em sua maioria nos quadros funcionais, não nos de comando administrativo e científico, mas na faxina, no restaurante, no cuidado com os jardins. E a burocracia dos departamentos parecia o degrau maior que um negro alcançaria na hierarquia institucional.
Quando as cotas foram apresentadas e aplicadas ao dia a dia institucional, houve uma crescente e silenciosa manifestação, que não podemos chamar de racista a priori, de pais e alunos principalmente, que se sentiram injustiçados pelo sistema. Com o discurso da competência atacaram as cotas sob a acusação de levar alunos menos preparados para a universidade, leia-se negros e pobres, porque alunos da rede pública de educação. Esse e outros discursos tomaram forma e força, mas até agora não foram levados em consideração, porque discutir o racismo embutido na mente da classe média e alta brasiliense, me parece, pode ser algo perigoso para a universidade. Mas talvez tenha gradativamente despertado nossos monstros interiores, tenha acordado o racismo real, não o disfarçado na conversa de diversidade e democracia racial, mas o real, o violento, o discriminatório e segregacionista.
Brasília, sabemos, é recortada por áreas, onde o Plano Piloto branco e privilegiado separa geograficamente a periferia, diferente de várias outras cidades em que o encontro das diferenças é fato e cotidiano, aqui não percebemos o pobre e o negro, os isolamos a alguns seguros quilômetros do nosso centro “limpo”, da nossa convivência. Mas a UnB promoveu a aproximação de uma pequena parcela da população negra brasiliense e também trouxe alunos africanos e negros para estudarem aqui, obrigando desta forma o estreitamento de uma relação que encontrava-se sob controle, obrigando a comunicação e intercâmbio culturais. No entanto, feriu alguns, abriu chagas escondidas em falsas cicatrizes históricas que não percebidas em seus tempos repercutem em nossa realidade. Cá estamos com um ato de violência sem precedentes na universidade contra um grupo específico, despreparados para explicar convincentemente àqueles que sofreram a agressão o porquê de tamanho ódio contra eles, afinal, os convidamos à nossa convivência. Despreparados para explicar à nossa própria comunidade universitária, ou à nossa cidade. Curiosos por entender as motivações pessoais que levaram a uma ou mais pessoas a atacarem com fogo a casa de outras, com o risco ou vontade de causar sofrimento físico e psicológico. E medo, muito medo, de que essas pessoas sejam representantes de um pensamento encolhido e prestes a se libertar, representantes de uma intolerância e ignorância que deveríamos combater sempre e que muitas vezes esquecemos porque mais conveniente, porque talvez queiramos manter.
quinta-feira, 29 de março de 2007
Menina de Atins
Tenho carinho especial por essa foto. Tive a oportunidade de conhecer Atins, pequena vila de pescadores que se encontra nos Lençóis Maranhenses. Há um passeio obrigatório pelos pequenos lençóis que termina na casa da Dona Luzia, terminado o almoço preparado por ela, tomei meu café e passei a arrumar o equipamento fotográfico que sofre um pouco com a areia das dunas. Quando dei por mim, essa garotinha estava com esse olhar, não saía da posse. Muito devagar preparei a câmera, mirando em outro lugar da varanda com luz parecida, e virei para ela e fotografei. Ela fez que não notou e continuou mais algum tempo me olhando, nunca entendi porque, mas me fez bem, me senti o exótico, eu era o estrangeiro, afinal, podia ser apenas curiosidade de criança, mas que fez bem, fez.
Durante um tempo eu chamei essa foto de O Olhar, mas me parecia pretencioso demais, fica qualquer nome, Menina de Atins é bom também. Para mim interessa que ela me deu um grande presente, esse instante que pude congelar e guardar como memória daquele dia.
Continuo escrevendo sobre fotos, é um jeito de mostrá-las também, vai ser assim até eu acostumar com a idéia de ter esse espaço e ter algo para contar... Inté.
Durante um tempo eu chamei essa foto de O Olhar, mas me parecia pretencioso demais, fica qualquer nome, Menina de Atins é bom também. Para mim interessa que ela me deu um grande presente, esse instante que pude congelar e guardar como memória daquele dia.
Continuo escrevendo sobre fotos, é um jeito de mostrá-las também, vai ser assim até eu acostumar com a idéia de ter esse espaço e ter algo para contar... Inté.
quarta-feira, 28 de março de 2007
Começamos assim...
Como a idéia não é apenas dar vazão aos pensamentos em forma escrita, e como tenho por interesse pessoal fotografar, principalmente temas antropológicos, um dia tirei essa foto da mão de um mestre de viola-de-cocho, não recordo seu nome. Peço perdão ao mestre, primeiro erro da primeira publicação, vá lá! Lembrarei...
Fica a minha homenagem à música e à fotografia. Dois assuntos que serão recorrentes nessas futuras linhas, entre outros, claro.
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